Eventos com minha família - 3

Garimpei novas histórias com minha família, espero que gostem.

Minha mãe contou que certa manhã estava no quintal de sua casa, varrendo a calçada enquanto conversava com meu avô que fumava seu cigarro tranquilamente enquanto fazia algo. Segundo ela, ele estava de pé e de repente começou a se debater e começou a se abaixar como se alguém estivesse puxando-o pelos ombros e tentando deitá-lo. Ela parou e olhou pensando que ele estivesse passando mal, quando se ergueu e gritou furioso: " - Comigo você não pode, porque Jesus Cristo anda comigo!". Ele ficou todo arrepiado (e minha mãe também), arregalou os olhos e falou para minha mãe: " - Este filho da p. pensa que pode mais que Deus, e tentou me derrubar. Minha filha, só que Jesus é mais forte!". Então, eles rezaram e tudo se acalmou.

Naquela época, meu avô parecia que estava sob ataque do mal, porque entre outras coisas, certa noite, quando ele foi se deitar (seu quarto ficava em uma edícula no fundo do quintal), ele ouviu o que parecia ser um rosnado que vinha direto de uma muda de dendê que havia. Ele acendeu as luzes e procurou pelo "cachorro" que estaria escondido, mas os dois cães que nós tínhamos estavam dormindo na casinha do outro lado do quintal. Como aquilo continuava a rosnar e roncar cada vez mais forte, ele encarou a planta (ou o que supostamente estaria por perto dela) e falou: " - Você pensa que pode comigo, que me assusta? Você não tem poder nenhum, Meu Pai é que te controla e me protege! Jesus Cristo é quem me vale!". Então aquilo se aquietou e nunca mais roncou para ele. Ele disse que dormiu sossegado e sem medo algum.

Meu avô, sem dúvida alguma, foi o homem que possuía muita fé que eu conheci; ele não levantava bandeira para nenhuma religião, aliás, ele detestava, mas sua fé pura em Deus e em Jesus comovia qualquer pessoa.

Nesta casa em que morávamos, apesar de possuir um grande terreno, minha avó sempre gostou de manter uma horta e criar animais de estimação e para vendas. E por aquele tempo, não havia mais espaço disponível para manter a horta, o pomar, o galinheiro, o chiqueiro, muito menos pasto e espaço para os caprinos, onde as cabras pudessem se alimentar e dar boa quantidade de leite. Então ela arrendou um terreno à frente de nossa casa, cuja antiga fábrica de doces havia falido, e instalou as cabras por lá. O terreno era grande e estava juntando muito mato no local, então tanto para ela, quanto para o dono, foi bom negócio. É bom lembrar, que o tal terreno era todo murado alto (ele foi posteriormente uma empacotadora de rações, supermercado, e hoje é um condomínio) e apenas minha avó tinha acesso a ele, porque somente ela tinha as chaves dos portões. Então ela ia toas às manhãs e às tardes soltar, alimentar e recolher as cabras.

Certo dia, ao entardecer, ela foi recolher os caprinos antes que escurecesse. Ela contou que, instalando os animais no cercado, ela escutou um barulho no meio do mato, como se ainda estivesse algum animal solto. Ela olhou para pegar a cabrita fujona e o que viu fez congelar seus ossos: ela viu um carneiro (não um bode) marrom de olhos vermelhos brilhantes bufar e correr para o lado dela. Ela desatou a correr gritando por socorro, e quando meu avô veio ao seu encontro, ele não viu carneiro algum. Ela disse que ele correu até certo ponto, mas não saiu até a rua, ficando apenas nos fundos do terreno. Meu avô falou para ela que alguém teria instalado o carneiro por lá também, e que ele certamente estaria cortejando as cabras. Mas ela ficou furiosa porque não tinha sido avisada, mas por precaução teriam que amarrar o carneiro em algum canto longe das cabras que estavam amamentando suas crias. Eles voltaram lá e não viram carneiro algum, nem buraco que supostamente ele poderia ter se adentrado no terreno. Meu avô então falou que ela estava vendo coisas e não ligou. Na outra tarde (de manhã ela nunca viu nada de anormal), novamente sozinha, ela retornou ao local e deu de novo com o tal carneiro e saiu gritando e correndo de novo. Desta vez foi minha mãe que foi com ela e novamente não encontrou carneiro, buraco ou esconderijo nenhum no terreno ou na construção da antiga fábrica. Então todas as tardes ela ia com mais alguém recolher as cabras, e nunca mais se encontrou com o carneiro, pois ela só o via quando se adentrava sozinha no terreno, e sempre o via encarando-a e correndo atrás dela.

Naquela casa, às vezes aconteciam coisas estranhas, como uma vez, em que meu irmão e eu ainda crianças, estávamos assistindo TV sentados com ela em cima de sua cama. Estávamos nós três encostados na cabeceira e de repente ela se desequilibrou e sentiu que alguém tinha também se sentado na cama ao lado dela. Ela disse que sentiu a pessoa se encostar nela. Ela assustada, mas em silêncio para não nos amedrontar, começou a rezar e viu a cama de mexer sozinha como se alguém tivesse se levantado e saído do quarto.

Estes eventos aconteceram há muitos anos, lá pelos anos oitenta; a exceção é o episódio do carneiro perseguidor da minha avó que ocorreu lá pelos anos sessenta, quando minha avó era moça e tinha lá por volta seus quarenta anos.

Mas, o último relato que contarei aconteceu no ano passado, na casa da minha mãe. Meu irmão (o roqueiro de "Metaleiros no Convento") estava jogando Play Station em seu quarto, quando um amigo chegou. Ele chamou o menino para jogar também, e pegou um pacote de bolacha recheada e repartiu ao meio com o amigo. Ele colocou as bolachas na cama ao seu lado, e seu amigo começou a comer as dele. Meu irmão disse que pegou uma bolacha e comeu entretido com o jogo, e sem olhar, foi pegar outro biscoito e não viu nada. Ele olhou para a cama e não encontrou nenhuma bolacha. Então ele falou pro rapaz: " - Pô, você comeu as minhas também? ". Então o menino ainda com alguns biscoitos nas mãos falou mastigando ainda; " - Eu não, as suas estão aí...", e apontando para o nada falou - Cadê? Você já comeu?.

Neste momento ele conta que as portas de seu quarto (a edícula dele é em "L" e as duas portas estão instaladas em locais diferentes, e o vento não passa por elas na mesma direção) ao mesmo tempo fecharam com violência, e as portas do guarda-roupa começaram a estalar e a tremer por alguns segundos, como se quisessem abrir sozinhas. Assustados, eles se entreolharam e saíram correndo do quarto. Ele falou que aquilo nunca tinha acontecido e por sorte, nunca mais voltou a acontecer.

Bem, eu particularmente, assim como meu irmão, amo o rock'n roll, mas ele, como músico profissional, seu quarto é todo decorado com pôsteres de grandes ídolos, e algumas fotos de pessoas que já faleceram como a Janis, Sex Pistols, Ramones, Hendrix, Marley, Metallica com o Cliff Burton, o Led Zepellin com John Bonham, Lennon, entre outros. Na verdade, ele tinha um porta-recados com várias fotos apenas com ídolos mortos. Era legal, mas um tanto bizarro. Mas eu não posso afirmar que o evento das bolachas estivesse relacionado com os pôsteres e a energia que deles emanavam.


Jaqueline Cristina