Uma coisa puxa outra

Este fato ocorreu há muitos anos, e eu o reproduzo exatamente como me foi contado.

Fazia uns dez dias que eu tinha dado à luz e eu estava com meu recém-nascido na casa dos meus pais. Era época de carnaval e as noites de verão estavam muito quentes, ainda com o fato de que havia um bloco de carnaval ensaiando há algumas esquinas de casa.

Naquela noite exatamente, como é costume, um casal de amigos havia vindo nos visitar e trazer presentes para meu bebê. Como a noite estava animada, a conversa atravessou até altas horas da madrugada. Mas havia a necessidade de amamentação e os demais trabalhos de adaptação com o bebê, eu fui cumprir com minhas obrigações e acabei dormindo, depois de trocar suas fraldas e amamentá-lo.

Conversa vai conversa vem, o casal se lembrou de uma curiosa história que ocorrera dias antes com o casal de amigos. Eles estavam retornando à cidade, pela famosa estrada federal Lorena-Itajubá (anteriormente eu já relatei uma história fantasmagórica com um parente meu em "eventos com minha família"), a hora era, segundo disseram, em torno das dez da noite e a família viu em uma das curvas, um carro antigo, acho que era um Maverick, despencar na ribanceira. A mulher falou que eles viram um farol forte dar de frete para o veículo deles, o marido desviou e viu o carro descer ladeira abaixo.

Como a estrada estava deserta e eles não viram ou ouviram nenhum pedido de socorro, ou sinal de batida, ou fogo, eles rapidamente foram para casa e o marido retornou com o cunhado (a família mora perto uns dos outros), com lanterna (naquela época não havia celular disponível como hoje), cordas e foram ao local à procura das vítimas.

Eles não encontraram nada. Foram mais adiante, achando que ele deveria ter se enganado de curva, mas não viram nada. O homem ficou aliviado de não ter chamado a polícia (a primeira idéia que veio à sua cabeça, mas ele não soube explicar o porque não fez), pois fatalmente eles teriam a ligação por trote.

O homem disse que não dormiu naquela noite, e ao amanhecer, antes de ir ao trabalho, ele se levantou e percorreu novamente o percurso todo à procura de vestígios do acidente. E nada, nem o mato estava rebaixado.

Mesmo com a conversa indo por este caminho, meu bebê acordou e eu os deixei rindo e contando histórias de fantasmas pela noite afora.

Mas aí que vem a parte que eu não presenciei, e minha mãe me contou no outro dia.

Quando eles partiram e meus pais já se preparavam para dormir, o Denis, nosso gato, começou a miar alto, roncar e gritar alucinado na cozinha. Minha mãe se levantou e achou que tinha entrado outro gato estranho em casa, ou até mesmo outro bicho, ou qualquer outra coisa que estava atormentando o felino.

Minha mãe disse que quando abriu a porta, o gato correu para baixo da cama e continuou assustado. Então ela viu um vulto escuro no corredor indo em direção ao meu quarto. Ela viu então o Denis sair correndo até a porta e começar a avançar gritando e dando tapas no vulto.

Ela disse que meu pai também viu, eles começaram a rezar e mandar aquela coisa para fora de casa. Ela pegou o terço e a bíblia e foi nos defender rezando. Ela viu a sombra voltar e sair pela porta da sala, e viu que o gato correu para cima do sofá e ficou olhando para a porta (que ela instintivamente abriu e mandou a coisa sair). Com medo, ela disse que rezou um tempo na sala até o gato se acalmar e ir dormir em seu quarto tranquilamente.

Eu confesso que não ouvi os gritos do gato, nem nenhuma outra movimentação na casa, pois dormi abraçada com meu filho um sono pesado, até que ele acordasse para a hora de outra mamada.

Então na manhã do dia seguinte, ela me contou assustada o que ocorreu e disse que nunca mais ela iria falar daqueles assuntos, e que atribuiu o fenômeno ao fato das portas e janelas estarem abertas fora de hora. Mas isto é apenas superstição e era impossível para qualquer pessoa suportar o calor trancado dentro de casa.

Mas não adiantou, ela era muito católica e supersticiosa naquele tempo, além de ter me obrigado a marcar logo o batizado do menino, porque ele era pagão, e tudo mais. O que eu atendi, mas fiquei feliz porque de certa forma eu sabia que tanto eu quanto o bebê estávamos protegidos daquele tipo de influência. Nós ainda não éramos espiritualistas, e muita coisa para nós era um completo mistério e motivo de medo e terror.

Hoje, nós sabemos que havia a possibilidade da coisa ter sido trazida para dentro de casa pela família, que inadvertidamente poderia ter trazido a coisa de carona do local, ou estavam mesmo com algum encosto há algum tempo. O gato, movido pelo instinto protetor e por ser um catalizador arquetípico espiritual, deu o alarme e nos defendeu.

Minha mãe conseguiu afastar aquilo de nós naquela noite, mas nós nunca afastamos a mediunidade sensitiva do meu filho. E eu acho que aquele episódio foi o primeiro a envolver meu filho, pois ocorreu outras coisas estranhas tendo meu filho presente, mas hoje nós sabemos como lidar sem medo, preconceito e superstições.


Jaqueline Cristina