Telemarketing assombrado

Há algum tempo, trabalhei no período noturno de uma empresa de telefonia cuja operação era de atendimento de emergência, e por isso, o atendimento é de vinte e quatro horas.

Naquela empresa, eu trabalhava no segundo andar do prédio e como a empresa estava em expansão, foi construído todo um anexo geminado ao nosso antigo pavilhão. Na época da construção houve um terrível acidente na obra e um dos operários caiu do andaime e após dias veio a falecer. Este triste episódio ocorreu nas vésperas de Natal, e como eu estaria de plantão naquela data, eu ouvi todo o murmúrio a respeito do ocorrido. Fora aquela tragédia, a empreitada ocorreu sem outros percalços, o acidente foi uma fatalidade, pois a empresa prestou todos os socorros, além dos equipamentos estarem de acordo com as normas e tudo mais; resumindo, o acidente tinha sido obra do acaso e não por negligência de nenhuma das partes.

Agora, com relação à operação de teleatendimento, soube que um funcionário, meses antes de eu trabalhar lá, teve um mal súbito na P.A. (posição de atendimento) e faleceu ainda dentro da empresa.

Lendas à parte, o ambiente de trabalho era excelente e eu sinto não ter dado certo minha carreira. Porém, durante os anos que eu trabalhei por lá, fiquei estranhamente doente das mais estranhas moléstias. Eu tive desde tumorações benignas nas articulações, infecções no sistema urinário, até uma grave doença nos intestinos que tive que passar por uma dolorosa cirurgia de desobstrução.

Até que, indo trabalhar certo dia, me acidentei e quebrei o pulso, o que foi a gota d'água.

Até aí tudo bem, sem delongas ou coisas estranhas. O que eu realmente quero relatar é que quando eu trabalhava no período diurno e tomava o novo elevador para ir até o segundo andar, muitas vezes eu subia sozinha e o elevador nunca parava no primeiro andar e abria a porta sem ser acionado. Pois isto só acontecia lá pela três da madrugada, hora que eu descia para fazer um lanche e me alongar um pouco.

Então, era comum, eu tomava o maior cuidado para não apertar o botão errado e toda vez que eu descia ou subia para o segundo andar, ele sempre dava uma paradinha, abria a porta e eu ficava lá olhando com cara de abóbora para o sinistro corredor escuro que parecia com aquele corredor do apartamento do filme "O Grito". Nas primeiras vezes eu achei que fosse brincadeira de algum colega que fazia ronda por lá, eu até algumas vezes saí no corredor escuro para dar um susto no colega brincalhão, mas nunca encontrei ninguém.

Depois eu me acostumei e várias vezes orei, perguntei se alguém queria se comunicar, mostrava a língua (o que certa vez me deixou embaraçada porque dei de cara com o vigia que justamente havia apertado o botão no andar), fazia careta, enfim, qualquer macaquice que mostrasse a alguém (vivo ou morto, já que eu sempre achei que o elevador tivesse câmera oculta e que alguém queria me ver gritando de medo par tirar onda da minha cara) que aquilo não me dava medo.

Mas isto sempre acontecia tanto na descida quanto na subida todos os dias da semana que eu estivesse de plantão, com a minha ou outra equipe de trabalho.

Bem, mas o que realmente me assustou de fato, foi no dia que eu sofri o acidente e retornei à minha casa depois de ter retornado do hospital. Eu estava com a mão engessada e cheguei em casa mais cedo do que de costume e fui ao meu quarto guardar minhas coisas e dar seguimento à documentação do acidente. Mas quando eu entrei em casa, minha poodle estava assustada atrás do sofá da sala e não queria entrar no quarto comigo. Então, eu fui ver o que estava acontecendo (imaginem meu "bom-humor") e ouvi uma musiquinha que parecia com uma caixinha de música. Eu tive certeza que eu estava ouvindo a suíte do quebra-nozes, pois eu tenho uma única caixinha de música e ela toca o lago do cisne. Eu conheço os trechos, pois ouço muita música clássica. E eu não tenho esta ária nem mesmo como toque do celular, além de que naquela época, não havia ninguém morando ao lado de minha casa, o que poderia me confundir com o evento.

Mas o contrário, a música estava em meu quarto em toda a parte, tocava no volume semelhante às caixinhas de música. E este fato foi a única vez que eu presenciei algo de estranho em minha casa.

Como eu estava nervosa com o evento anterior, aquilo foi "a cereja da empada" e eu fiz o maior escândalo sozinha, e chorei adoidado. Foi um catalisador, e eu pus para fora tudo o que estava me atormentando havia meses. A música parou e eu dormi, e só fui acordar quando minha cadela subiu na minha cama e já estava sem medo de entrar no recinto.


Jaqueline Cristina