Será que é ele?

Há pouco tempo atrás a minha família se mudou para uma casa um pouco maior, já que a minha mãe estava para ganhar um outro filho, um temporão. Nós no mudamos para essa casa quando a minha mãe ainda estava com 6 meses de gestação.

Todos nós gostamos da idéia de nos mudarmos, já que cada um teria o seu quarto. Até então morávamos em uma casa onde eu tinha que dividir um quarto com o meu irmão mais velho. Essa casa tinha cinco quartos, um sala grande, cozinha grande, um quintal enorme. Dava para acomodar a nossa grande família sem problemas nenhum.

Quando chegamos na casa, a minha mãe já foi logo escolhendo o quarto do bebê e com o tempo foi arrumando ao gosto dela. Colocou papel de parede, pintou os armários, comprou um berço novo. Arrumou do jeito que ela queria. Ela passava horas lá dentro. Essa gravidez estava fazendo muito bem para ela. Ela ia ser mãe de novo e estava feliz com isso. Todos nós estávamos. O melhor de tudo é que nós já não éramos mais crianças e então dessa vez não tinha aquele ciúmes que as crianças tem quando são novas e estão para ganhar um irmãozinho. Isso só deixava as coisas melhores ainda.

Tudo estava indo bem, até chegar o 8º mês de gestação. Até então nenhum problema tinha aparecido. Mas algumas complicações apareceram e tudo aconteceu muito rápido. Uma noite a minha mãe acordou sentindo dores fortes e o meu pai levou ela correndo para o hospital. Depois de algum tempo voltaram e tudo parecia estar bem, mas dois dias depois ela foi para o hospital de novo. Dessa vez ela passou a noite lá. Quando ela voltou para casa ela estava com um rosto muito abalado.

Então no dia seguinte aconteceu a pior coisa que podia ter acontecido. O meu pai tinha pedido para ficar uns dias de folga no escritório, para ficar com a minha mãe. Só que nesse dia chamaram ele para resolver um problema urgente lá que ninguém estava conseguindo resolver. Depois de muito insistir, a minha mãe conseguiu convencer ele a ir. Os meus irmão e eu ainda estávamos na escola. Quando nós chegamos de tarde em casa, nós fomos procurar a nossa mãe. Depois de chamar e não receber resposta, resolvemos ir ver se ela estava no quarto do bebê. Quando chegamos lá, nós gelamos. A nossa mãe estava caída no chão. A minha irmã mais nova começou a chorar, eu e o meu irmão tentamos ver se ela estava bem, mas ela não respondia, estava inconsciente. Ligamos para o nosso pai e ele voltou voando para casa. Nós levamos a nossa mãe para o hospital, mas já era tarde. Ela tinha abortado o bebê. O médico falou que com a idade dela essa gravidez era muito arriscada, e que era sorte ela estar bem, mas ela não se importava muito com isso. Ela ficou um bom tempo deprimida por causa da morte do bebê.

Com o tempo a nossa família se recuperou do que tinha acontecido, e acabamos ficando com essa casa mesmo. Agora a parte estranha de tudo, de vez em quando, quando a casa está quieta e nós estamos perto do quarto do bebê, as vezes ouvimos um bebê chorando, ou as vezes rindo. Todos nós já ouvimos, e na vizinhança não tem ninguém que tenha um bebê. A primeira vez que eu ouvi isso, eu imaginei que se a minha mãe ouvisse ela ia voltar a ficar triste e deprimida, mas na verdade ela foi a primeira a comentar sobre ter ouvido um bebê com os outros e no final de tudo, ela pareceu até ficar aliviada em ouvir o bebê, pois ele parece estar sempre feliz.

Até hoje da para escutar o bebê. Não é algo que da para se ouvir sempre, mas sempre que eu ouço ele, eu sinto uma sensação de bem estar, como apesar de ter acontecido o que aconteceu, ele está bem agora. Eu sempre me pergunto se realmente é ele que nós ouvimos, mas lá no fundo eu sei que é.


Douglas - SP - São Paulo