Pobre Bela

A minha melhor amiga, a Bela (de Isabela), é praticamente a minha prima mais do que amiga. A mãe dela morreu de uma overdose de droga e nunca falou para ninguém quem era o pai dela, então a minha tia criou ela como uma filha. Isso é tudo muito triste, ainda mais pela Bela ser uma garota tão boazinha e simpática. As histórias que e vou contar aconteceram com ela:

1ª História, A Voz

Aconteceu do nada, de repente. Não foi nada gradual que foi piorando com o tempo, só BAM! Bem no meio da cara!

Nós duas estávamos deitadas na cama dela, que é uma cama de casal imensa, assistindo um filme bobinho. Eu tinha ido ver ela depois da escola. Geralmente nós não conversamos, a gente meio que se entende só de se olhar. Então de repente a TV desligou junto com um som de algo rachando. Eu levantei achando que a TV tinha quebrado ou coisa parecida, mas ela deu um pulo da cama e ficou olhando em volta com uma cara aterrorizada.

"Bela? O que foi?"
"Ai meu Deus, não!"

Ela parecia estar bem assustada, então eu sabia que ela não estava tirando sarro da minha cara.

"CORRE!"

Ela gritou, pulando na direção da porta. E foi para onde eu corri também, só que a porta estava fechada e parecia que estava emperrada, ela simplesmente não se mexia! Nós duas empurramos e puxamos, mas ela simplesmente não cedia nada. Não tinha mais ninguém em casa, só nós duas. Então as luzes se apagaram e nós duas ficamos com as costas grudadas na porta. Devia ser umas 16:00 pelo menos e tem duas janelas no quarto dela, mas estava tão escuro que não conseguíamos ver os nossos narizes. Eu agarrei o braço dela. Eu sussurrei tão baixo que eu acho que ela nem me ouviu.

"O que está acontecendo?"
"Ele está aqui."

Uma voz falou, mas não era dela. Veio do meio do quarto. Era uma voz terrível, eu nem posso descrever direito, só que era completamente desafinada. Eu imaginei que aquilo seria como a voz do próprio diabo pareceria.

Então, a cerca de 1 metro da cama, nós ouvimos o chão estalando (o chão do quarto dela era de madeira), como se alguém tivesse colocado todo o peso lá. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, como se uma torneira estivesse vazando.

A voz, agora quase feminina, disse suavemente, quase que em um tom maternal mas cheio de maldade.

"Não chorem, garotas! Vai doer menos se vocês gritarem!"

Eu senti pelo menos quatro mãos menores do que as de uma criança de uns 6 anos arranhando a minha perna, mas como eu estava usando jeans (do uniforme da escola), não me machucou muito, mas a coitada da Bela estava usando shorts. Eu simplesmente fechei os meus olhos e abracei a bela o mais forte que eu podia. Então de repente alguma coisa nos jogou no chão. Então a luz se acendeu e a TV ligou de novo passando uma novela qualquer e nós estávamos no chão nos abraçando, com os cabelos completamente bagunçados e o rosto coberto de lágrimas. A porta se abriu e nós gritamos.

"Calma, sem gritaria!"

Era a minha tia vindo falar que o jantar estava pronto. Ela nos olhou e perguntou se tinha alguma problema, já que parecíamos que tínhamos brigado. Nós falamos que estava tudo bem e que íamos nos arrumar para descer.

Assim que ela fechou a porta, nós nos levantamos e nos olhamos, procurando algum corte ou alguma marca roxa. As nossas pernas estavam todas cheias de cortes pequenos e arranhões e o meu braço estava roxo, como se alguém tivesse agarrado ele e apertado. A Bela tinha um galo enorme na cabeça.

"Mas que #&!$@ que acabou de acontecer?" eu perguntei.
"Eu não sei direito." ela respondeu.

Nós olhamos no relógio e já eram quase 21:30.

2ª História, A Garota

Eu não preciso nem dizer que nós tentamos deixar aquilo para trás, como se fosse um incidente isolado, mas foi algo que não deu para ignorar depois disso.

Aconteceu na casa dela de novo, um mês depois. Foi no dia seguinte do 12º aniversário dela. Era meio estranho nós sermos tão amigas com a nossa diferença de idade. Eu tinha feito 16 não fazia muito tempo. Nós estávamos sentadas no quintal dela, entediadas.

Eu estava com um sorvete na mão e ela com um pirulito na boca. Estava quente, quase fazendo 30° graus e nós tínhamos acabado de sair da piscininha de criança que ela tinha (eu sei que é patético, mas estava quente pra caramba). Então eu ouvi algo. Apesar do sol todo que estava, eu comecei a sentir muito frio só de maiô lá fora. Eu olhei para a Bela, e ela estava olhando para alguma coisa atrás de mim, com os olhos arregalados de medo e com o pirulito ainda na boca. Eu olhei para trás e vi uma garotinha em pé. Ela estava com um sorriso malicioso na cara, como o de alguém que está para fazer alguma coisa muito malvada e sabe disso. Os olhos dela tinham uma tonalidade estranha, tinham um reflexo quase avermelhado, que me faziam o sangue gelar. Ela estava com uma blusa estampada de ursinhos e uma calça azul, e a pele dela era muito pálida. Na mão esquerda dela tinha um pedaço pontudo de ferro. Ela estava bufando como um touro de desenho animado, como se estivesse odiando o que ela estava vendo. E ela estava olhando para nós. Nós duas gritamos e a minha tia saiu correndo pela porta.

Nós olhamos para ela e então assim como veio, aquele frio foi embora. Eu não estava mais congelando e agora podia sentir o sol queimando a minha pele. A minha tia começou a gritar brava com a gente, perguntando qual era o nosso problema. A garotinha tinha sumido e só estávamos nós três no quintal. Nós tentamos explicar para ela o que tinha acontecido, mas ela estava ocupada demais gritando com a gente por ter assustado ela.

"Eu pensei que tinha um maníaco aqui fora! Nunca mais façam isso!"

"Desculpa tia, a gente não faz mais isso."

Ela entrou em casa e nós duas nunca mais vimos aquela garotinha de novo, graças aos céus!

3ª História, A Mulher

Essa não foi na casa dela. Eu estava lendo um livro, em um sábado, e já deviam ser umas 23:00. Eu e a minha mãe (que já estava dormindo) éramos as únicas em casa, e em uma família de 6 pessoas com dois cachorros, isso é um alívio.

Eu estava no sofá, lendo, quando eu senti um frio subir a minha espinha. Eu não sei por que, mas de uma hora para outra eu estava muito assustada, sem motivo aparente nenhum. Eu fiquei parada sem fazer barulho nenhum, só ouvindo aquele silêncio todo, sem ouvir nada, apenas o som da minha orelha apitando. Então o telefone tocou e eu quase tive um enfarte. O meu coração quase saiu pela minha boca. Eu atendi o telefone no meio do primeiro toque.

"O que aconteceu?" eu falei, estranhando o jeito peculiar que eu atendi o telefone.
"É a Bela. Eu posso ir dormir aí?"
"Pode, sem problema."

Depois de 10 minutos, ela chegou. Assim que ela passou pela porta eu pude notar que ela estava muito assustada.

Então ela me contou o que tinha acontecido. Ela ia passar a noite na casa de uma amiga que mora a 6 quarteirões de onde eu moro, e foi por isso que ela chegou tão rápido (a casa dela é a uns 2km da minha). Havia mais 5 garotas lá, e todas queriam fazer a brincadeira do copo. A Bela falou que não queria fazer e foi para a sala ver TV. Cinco minutos depois, as outras garotas entram na sala gritando e berrando, falando que o copo tinha soletrado "morte" (mas na verdade não foi nada, mais tarde uma das garotas confessou que estava movendo o copo). Então elas decidiram que queriam fazer algo mais assustador. Então resolveram tentar falar com os espíritos pelo espelho. E lá foram ela para o banheiro com velas tentar chamar algum espírito, exceto a Bela, que sabia que não era bom mexer com essas coisas.

Depois de um tempo, as garotas começaram a gritar, de novo. A Bela falou que de repente, a TV ficou escura, como se tivessem fora do ar, mas ao invés de ter estática, estava apenas escura e chiando. Na tela escura da TV, ela conseguiu ver o reflexo de uma mulher, em pé, atrás do sofá onde ela estava. No meio do chiado ela conseguiu ouvir uma voz masculina dizendo:

"Bela, minha criança, venha para mim. Eu não vou te machucar, não como no seu quarto."

Então a mulher atrás dela (ela ficou olhando o reflexo pela TV o tempo todo) abriu os braços. Então a porta da sala abriu e as outras garotas entraram correndo. Nisso a TV voltou ao normal e estava passando o filme que a Bela estava assistindo. Quando ela virou para trás, a mulher não estava mais lá. Então as garotas começaram a falar para a Bela que era para ela ir embora. Elas falaram que viram ela no espelho! Elas falaram que a Bela do espelho ameaçando elas e que elas não queriam mais que ela dormisse lá com elas, então ela me ligou e veio para a minha casa.

Eu fico muito triste pela Bela ter uma vida dura como a que ela tem, por que ela é a pessoa mais doce que eu conheço, e não merece passar o que ela passa. Eu tenho outras histórias sobre mim, mas esse foi o meu tributo para a Bela. E eu espero que ela encontre paz na vida e que essas coisas parem de acontecer com ela.


Vanessa - SP - São Paulo