Peraí, Seu Luí !

Há uns vinte anos, o caseiro de um amigo contou uma história que lhe aconteceu ainda garoto, quando ajudava um senhor de nome Luiz a tirar leite de umas vacas, às 4:30h da manhã, todos os dias, em uma cidadezinha do interior de Pernambuco.

Um belo dia, foi acordado com o grito do Sr. Luiz lhe chamando do lado de fora de sua casinha, ao que pulou da rede, já vestindo-se rapidamente e percebendo ter perdido a hora.

Porém, ao chegar do lado de fora, o Sr. Luiz não o havia esperado e já andando na metade da estrada que dava para os currais, carregando aquele balde típico de apanhar leite.

Estranhou o dia estar tão escuro, mas pensou que o Seu Luiz tivesse enlouquecido de vez, por não lhe ter esperado, e saiu correndo para alcançar o cidadão, gritando: "Peraí, Seu Luí".

Só que quanto mais corria mais o Sr. Luiz estava longe, embora escutasse o barulho que fazia a lata. Correu o mais que pode, mas não conseguia nunca alcançá-lo.

Quando a estrada se bifurcava, o tal senhor tomou o caminho da esquerda, em direção ao açude, e não o da direita, em direção ao curral (??).

Foi aí que o pobre garoto "caiu em si" e parou de correr, sentindo arrepiar-lhe todos os cabelos. Deu meia volta e acelerou ainda mais para casa, derrubando a porta da frente com os dois pés, de um pulo só, estatelando-se no meio da salinha.

Seu irmão e mãe acordaram com o barulhão, vieram saber o que estava acontecendo e lhe deram um pouco de água com açúcar para se acalmar.

Depois de ouvirem a história, lembraram a ele que ainda eram 4:00h da manhã e Seu Luí ainda não havia passado. Tudo acontecera, mais ou menos, às 3:30 da manhã, então.

De fato, meia hora depois Senhor Luiz passou, como de costume, e eles foram normalmente ordenhar as vaquinhas no curral.

Ao saber do acontecido, Seu Luí apenas disse que fora dormir preocupado com o que iria fazer na manhã seguinte e até havia sonhado que passara na casa do garoto mesmo.

Como sempre li sobre esses assuntos, conclui que o "duplo" do Senhor Luíz visitou realmente o garotinho, enquanto aquele sonhava, causando aquela aparição.

Diante de uma explicação tão simples, o caseiro não teve outra coisa a dizer, senão: "Bão, creditá eu num credito. Mas que exeste, exeste!"


Gustavo Arruda