Os perdidos da Ilha Grande

Em visita recente à Ilha Grande - RJ ( Angra dos Reis ), pude constatar a real beleza deste paraíso. Um lugar que já foi visto como temível, pelo presídio de segurança que havia ali instalado e seus prisioneiros perigosos. Este presídio, localizado na Vila de Dois Rios, abrigou os mais perigosos marginais que já passaram pela nossa história.

Mas na praia Preta, ao lado da Vila do Abraão, existe ruínas de uma antiga construção datada de 1871, realizada por ordem do imperador, para que os imigrantes que aqui chegassem ficassem em quarentena, devido as doenças da época. Este local chamado de "leprosário", algum tempo depois se transformou em presídio também. Este presídio abrigava presos políticos e marginais de altíssima periculosidade.

Após a construção do presídio na Vila de Dois Rios, estes presos foram transferidos para lá e o presídio demolido na década de 50. Muitas marcas ficaram nas paredes do "leprosário"... Existe uma câmara escondida, de difícil acesso que ainda guarda as marcas da dor sem muita depredação. Eu entrei neste lugar e ainda filmei algumas inscrições nas paredes e pude sentir o ar pesado que reside ali...

Fiz esta prévia, para que você que está lendo isto tenha condições de entender o que vou contar. Muitas histórias cercam a Ilha Grande...

Em Novembro de 2001, fui à passeio para este local. Levei material para pesca pois pretendia descansar bastante. Durante o dia, passeamos bastante e quando começou a anoitecer, preparei o meu material e me dirigi à Praia Preta ( Onde fica o Leprosário... ).

Me instalei a uns 300 mts do Leprosário. Acendi o Lampião e preparei todo o material para iniciar a pesca. Pretendia ficar por ali até conseguir fisgar algum peixe merecedor de fotografia...

Eram mais ou menos umas 00:30 Hs, quando ao longe escutei rumores de muitas pessoas caminhando pela trilha que nos leva a praia Preta. Sem a menor maldade, imaginei que seriam mais aventureiros em busca de uma boa pesca. Ainda olhei para a direção da trilha pude perceber alguns vultos no escuro, pois o lampião não rendia muita luminosidade...

Falavam muito baixo, quase murmuravam e não dava para distinguir nenhuma palavra... Seguiram caminhando até que sumiram na curva da trilha. Neste momento até fiquei feliz, pois parecia que este grupo era bastante numeroso e se resolvessem se instalar ali perto, iriam atrapalhar a minha pescaria.

Bom a verdade é que o tempo passou e eu até me esqueci deles... Quando comecei a ouvir ao longe, alguns gemidos, parecendo que alguém estava em apuros. Lembrei-me do grupo que havia passado por mim, mas também percebi que não poderiam ser pescadores, pois não via nenhum outro lampião aceso na orla da praia ou qualquer outra fonte de luz , que seria necessário.

Fiquei intrigado com aquilo e resolvi apurar mais a audição.... Os gemidos vinham da direção do antigo Leprosário... Instantaneamente, acreditei que pudessem ser viciados ou um grupo de campistas, mas apurando também a visão, pude perceber que alguns vultos ( Acredito que 5 ), andavam de um lado para o outro, se abaixavam e levantavam.... Aquilo começou a me intrigar...

Resolvi "pagar" para ver, e com isto peguei a minha faca de pesca e o lampião e me dirigi na direção de onde partiam as visões e murmúrios. Comecei a sentir medo durante o meu progresso, porém estava bastante curioso para saber o que estava acontecendo. Conforme eu me aproximava, os murmúrios ficavam mais audíveis, porém não conseguia mais ver nenhum vulto. Imaginei um milhão de coisas naquele momento!!! Cheguei a 10 metros das ruínas do Leprosário e na areia da praia, um riacho vindo da cachoeira, desaguava no mar. Era uma água muito gelada e atravessei rapidamente.

Os murmúrios já haviam se transformado em gritos de dor, palavrões e pedidos de socorro!!! Algo horrível de se ouvir, ainda mais sozinho no escuro!!!!

Não conseguia mais me mover... Quando pude ver um homem, branco, alto, com os cabelos desarrumados, barbudo e maltrapilho se aproximar em minha direção!! Parou a uma distância de uns 3 metros, o lampião iluminou bem a sua fisionomia maltrapilha e suja, olhar perdido e arregalado... Fixou o olhar em mim e disse:

- Você pode me ajudar a sair daqui?

E eu atônito, consegui apenas responder:

- Como??

Em seguida o homem gritou um palavrão bem alto, virou-se de costas e se dirigiu ao Leprosário, juntando-se a um grupo de outros vultos que andavam sem rumo. Imediatamente, tentei me mexer e minhas pernas trêmulas, articularam os passos. De costas fui-me afastando e quando estava a uma boa distância, virei-me e corri com a faca e o lampião nas mãos.... Deixei todo o material de pesca aonde eu o havia instalado. Segui direto para a casa que eu havia alugado e entrei desesperado e aterrorizado com o que acabara de acontecer... Não consegui dormir e nada contei aos meus familiares que estavam comigo. No outro dia, saí cedo e fui buscar o material de pesca e arrisquei uma olhada rápida no Leprosário, onde mais tarde buscando informações, descobri uma série de outros acontecimentos que contarei em outra ocasião.


Amauri