Os Metaleiros e as luzes da Serra de Piquete

Nunca senti tanta raiva de mim mesma por ser besta. To com vontade de tacar porrada na minha cara!

Viajei uns 100 km para passar o feriado com minha família, e por pura preguiça acabei de perder um grande evento sugestivamente de cunho sobrenatural!

Bem, vamos lá, meu irmão que eu já contei nos relatos " Metaleiros no Convento" e "O Senhor dos Raios" juntamente com alguns remanescentes da banda resolveram subir a Serra da Mantiqueira em direção ao município de Piquete, aproveitar o tempo quente e passear um pouco naquele bucólico, porém misteriosos local.

Aí o motivo da minha raiva: eles me convidaram e até insistiram para eu ir com eles, mas como eu não estava a fim de passear espremida numa caminhonete velha, acabei por não ir, que ódio!

Eles foram ao início da tarde pros lados do Pico dos Marins para dar uns mergulhos nas águas geladas que desce da montanha. E ficaram por lá até que começasse a escurecer e esfriar. Então começaram a juntar as coisas e colocar na Saveiro cabine dupla quando iram que algum suposto engraçadinho acendeu um canhão de luz forte bem na cara deles.

É lógico que de início levaram um susto, mas acharam que deveria ser brincadeira de algum conhecido deles zoando, pois as cidades da região são pequenas e "todo mundo conhece todo mundo". O problema é que eles se esquivaram do foco em vão e não conseguiram descobrir de onde vinha o foco. Pelo contrário, a luz parecia que seguia cada um deles sempre com força e não dava para enxergar nada.

Eles xingaram os caras eu tavam tirando onda deles, mas acabaram ficando amedrontados, porque sem querer perceberam que eram os últimos a sair de lá, e as outras pessoas que estavam por lá também já tinham partido, e o local antes lotado de gente estava vazio. E eles estavam "moscando" por lá, no meio do mato, numa região considerada assombrada e cheia de histórias bizarras de mortes, desaparecimentos e afins.

Juntaram as coisas depressa, e meu amigo Thiago (o tal que se atirou na cama do meu irmão no relato do convento) já estava em pânico, quase chorando de tanto medo. E foi o primeiro a perceber que a tal luz não era de nenhum canhão ou lanterna conhecidos, pois o coitado é uma espécie de pára-raios no que diz respeito à assombrações, mas mesmo assim ele vive pagando mico, e olha que de todos meu amigos do peito, o velho rockeiro, é sem dúvida o que mais veste a camisa, ou seja, jeans velho, cabelão descuidado, barba comprida e cara de mal..., pura propaganda enganosa o pobre!

Aí a situação que já estava ruim, foi ficando cada vez pior, pois a tal da luz começou a seguir a Saveiro descendo a serra junto. Aceleravam quando a estrada deixava e a luz acelerava junto, dobravam as curavas e desaceleram quando eram obrigados e a luz parece que continuava no mesmo ritmo que mantinham.

Eu já conheço relatos de luzes misteriosas nas estradas, mas foi a primeira vez que ouço a história de uma testemunha ocular, portanto nada há de original neste fato, disto eu reconheço, mas no quesito Serra da Mantiqueira, mais precisamente no Pico dos Marins, tudo ganha ares assustadores.

A tal luz o seguiu até que desceram toda a serra e alcançaram a BR 459, pois até nos atalhos de planície, a luz o seguiu por algum tempo e desapareceu de repente. Tão estranhamente como apareceu.

Aí ao chegar, eles queriam me matar, pois falou que eu deveria ter visto também. E é claro que eu daria tudo para presenciar este evento, até porque além de não temer (pelo menos eu penso que não, mas como eu fico com o pé atrás, isto eu fico sim, afinal é o tal Pico), a região ficou nacionalmente famosa na década de oitenta com o desaparecimento até hoje inexplicado do escoteiro de São Paulo.


Jaqueline Cristina