O Senhor dos Raios

Este evento ocorreu no começo do ano, na estação do verão, época de muita chuva e tempestade.

Meu irmão foi à casa da ex-namorada, até que escureceu. Como a menina morava a uns quatro quarteirões de distancia, meu irmão resolveu ir mesmo de bicicleta, até mesmo porque é algo prazeroso e ecologicamente correto.

Mas, por ser perto mesmo, ele resolveu que se chovesse ele iria se molhar pouco, pois estava a uns três minutos de distancia apenas. Mas ele não contava que iria desatar um temporal, com fortes ventos, granizo e muitos raios. Como a chuva demorou muito para passar, e por já estar muito tarde, ele resolveu ir embora com a chuva mesmo, e esperou que pelo menos os raios diminuíssem e os ventos passassem.

Minha mãe (que tem muito medo de tempestade) disse que pensou: "Minha Nossa Senhora, proteja meu filho nesta chuva, que ele chegue em casa bem!". E temerosa, disse que acabou por rezar pensando nele com a típica aflição de mãe.

A menina por zelo, lhe emprestou um guarda-chuva do pai dela. E o objeto era daqueles modelos antigões, com a ponta metálica para cima. Se equilibrando na bicicleta e com o guarda-chuva (algo um tanto idiota, pois ele iria se molhar de uma maneira ou de outra), contou que achou estranho, mas ele, enquanto vinha rápido pelas ruas, viu um "tiozinho" parado embaixo do poste, na chuva olhando para ele.

Ao se aproximar do velho, ele disse que caiu um raio muito perto dele, e em suas palavras: "Eu senti que uma coisa entrou pela minha mão direita e saiu pela esquerda, àquela que estava segurando o guidão da bicicleta. A energia passou por mim". Nessas frações de segundos, ele viu o semblante do velho: era de uma paz.

Por outro lado, minha mãe disse que ao terminar suas preces de proteção, ela começou a ouvir uma risada alta que aos poucos foi se aproximando. Eram as risadas do meu irmão, que chegava ensopado e com o guarda-chuva fechado. Ela que não sabia se ele ria de nervoso, ou se estava como que "em estado de graça".

Ele contou tudo que viu e sentiu, e depois que "caiu a ficha" percebeu que sua vida estava correndo perigo e que algo sem dúvida o salvou. Porque ninguém, ainda mais um idoso em sã consciência ficaria sozinho tarde da noite parado em baixo dos fios de alta tensão em uma noite de tempestade com fortes ventos e raios caindo a toda hora. E mesmo que houvesse alguém doido o suficiente, certamente pararia meu irmão quando visse o raio passando por ele a metros de distancia; ou até mesmo, poderia ter sido atingido também.


Jaqueline Cristina