O que me atacou?

Eu tenho as cicatrizes até hoje para provar que isso aconteceu de verdade.

Um amigo tinha me chamado para ir com ele para uma chácara de um parente dele que fica lá em Minas. Não estou lembrado do nome da cidade, mas fica a quase cinco horas de viajem saindo de São Paulo. Nós íamos passar o final de semana lá, então saímos na sexta a tarde de São Paulo.

Fomos nós dois com as nossas respectivas namoradas. A viagem para lá, apesar de tranquila foi MUITO cansativa. Quando chegamos lá já estava de noite. Enquanto o meu amigo foi falar com o caseiro da chácara, eu e as nossas namoradas fomos tirar as coisas do carro e arrumar tudo.

Para dar aquela relaxada, fizemos umas caipirinhas e resolvemos fazer um churrasco na beira da piscina (de noite mesmo). Ficamos lá a noite toda, nadando, comendo e bebendo, falando besteira e contando piada besta. Depois de um bom tempo, a carne já tinha acabado, a bebida também e o sono começou a aparecer. A essa altura já estávamos falando mais baixo, conversando sobre como era calmo lá, e como dava para ver mais as estrelas e essas diferenças que o pessoal que mora nas cidades grandes sentem quando vão para o campo. Num momento de silêncio, ouvimos um barulho vindo do meio do mato. Como estávamos no campo, pensamos que era só algum animal selvagem. O som era de alguma coisa andando ao nosso redor no matagal que cercava a piscina. Achamos que o cheiro da carne podia ter atraído algum bicho. Como já estava tarde, resolvemos não nos preocupar muito com isso e simplesmente ir dormir.

No dia seguinte o meu amigo foi perguntar ao caseiro o que poderia ser que estava rondando a piscina na noite anterior, e só então que ele lembrou de falar, que tinha algum bicho estranho rondando a chácara e as fazendas da vizinhança, e que já tinha atacado (e matado) um cachorro de uma fazenda próxima dali. Quando ele veio nos falar isso, nós ficamos um pouco preocupados, mas nem tanto, afinal era só um bicho selvagem qualquer que tinha atacado um cachorro. Não era nenhuma matilha de lobos sedentos de sangue que tinha dizimado toda a produção bovina da região. Então ficamos apenas curiosos imaginando o que podia ser. Mas pouco tempo depois, nem estávamos mais pensando nisso.

O dia foi passando, nós fizemos uma caminhada pela redondeza, voltamos para a chácara, almoçamos e passamos a tarde na piscina. Quando chegou a noite, resolvemos fazer pizza e jogar baralho na varanda da casa, já que estava quente demais para ficar lá dentro. No meio do jogo, começamos a ouvir um barulho vindo do meio do mato perto da piscina. Assim que ouvimos, eu e o meu amigo nos olhamos e falamos, "é o bicho!"

No começo não demos muita atenção, mas com o tempo a curiosidade foi crescendo e começamos a falar do que podia ser. Não demorou muito para que eu quisesse ir lá ver o que era. Como não estava fazendo muito barulho, achamos que fosse algo pequeno, do tamanho de um cachorro médio. Nós levantamos e ficamos no limite da luz da varanda, quase entrando na escuridão. Os dois postes de luz que tinham na piscina não iluminavam quase nada. O que quer que fosse parecia estar indo de um lado ao outro, um pouco depois da piscina. Eu comecei a avançar na direção dele (mas os outros ficaram parados, só olhando). Eu fui avançando, seguindo o barulho. Quando eu estava quase chegando perto, o bicho pareceu ter me visto e correu na direção oposta. Eu sai correndo atrás dele. Após uma breve corrida, silêncio. Ele tinha parado de se mexer. Eu fiquei parado tentando ouvir alguma coisa, então eu escutei o bicho correndo à minha direita, SÓ QUE ELE ESTAVA CORRENDO NA MINHA DIREÇÃO!!! Aquilo me assustou muito, em um momento eu estava caçando ele, pouco depois eu era a caça. Não importava muito que ele parecia ser pequeno, era um animal selvagem me atacando. Quando eu ia me virar para sair correndo, ele deu um bote e grudou na minha perna, e foi então que eu me apavorei.

Quando ele estava correndo na minha direção, eu notei que ele estava correndo de pé, como uma pessoa! Ele era um bípede, não um quadrúpede! Como estava escuro, não dava para ver direito o que era, mas era peludo, parecia um macaquinho. As patas da frente pareciam mãos, e elas tinham garras, que estavam cravadas na minha coxa. Então ele me deu uma mordida na perna. Eu já tinha sido mordido por cachorro antes, e aquilo estava doendo MUITO mais. Ele estava abraçando a minha perna, estava grudado em mim e estava me mordendo MUITO forte. Com a dor eu acabei caindo no chão. Quando eu cai, eu senti o meu ombro batendo em alguma coisa dura. Quando eu percebi que era uma pedra, eu peguei ela e comecei a bater com tudo naquela coisa na minha perna. Depois da terceira batida ele me soltou, mas eu continuei batendo até aquilo parar de se mexer. Então eu me levantei e sai correndo de volta para a casa.

Quando a minha namorada me viu correndo mancando, ela achou que eu estava brincando, até que ela viu a minha perna sangrando e veio correndo ver o que era. Quando eu expliquei o que tinha acontecido, eles não acreditaram muito. Eu falei que se eles quisessem ver, o bicho ainda devia estar lá caído no chão, provavelmente morto. Eles viram a minha perna, deram uma examinada e resolveram que era melhor a gente entrar em casa e ficar lá o resto da noite.

A minha namorada veio fazer um curativo na minha perna e ela ficou impressionada com as marcas. A minha coxa estava toda arranhada, não chegou a sangrar muito, só ficou como se eu tivesse enroscado a perna no arame farpado e tivesse puxado. Mas mordida impressionava. Era bem larga e tinha tirado bastante sangue. Mas sorte minha que não tinha sido tão profunda.

Nós ficamos o resto da noite imaginando o que podia ser aquilo e olhando pela janela para ver se tinha mais alguma coisa lá fora. No dia seguinte, pouco depois de acordar, eu já queria ir lá ver se eu conseguia ver melhor o que era. Eu e o meu amigo pegamos uns pedaços de pau que tinha por lá e fomos até o meio do mato onde o bicho tinha me atacado. Mas quando chegamos lá, não tinha nada, só sangue e os restos do que quer que fosse aquilo. Parecia que algum cachorro tinha comido o que tinha sobrado.

Fomos embora de tarde sem saber o que era aquilo. Mas uma coisa que me preocupou muito, foi que aquilo pareceu ter feito uma emboscada!!! Primeiro ele atraiu a gente (andando de um lado para o outro no mato) e assim que um de nós chegou perto, ele fugiu (para afastar dos outros), e assim que eu estava sozinho, ele começou a andar em silêncio, deu a volta e me atacou pelo lado!!! Sem falar que era um bípede.

Como eu falei antes, eu tenho até hoje as cicatrizes na perna para me lembrar dessa infeliz aventura. E eu aprendi a minha lição.


Max - SP - São Paulo