Mulher na janela da casa

Finalmente havia conseguido alugar uma casa em uma rua tranqüila, todas as outras que morei, ficavam em ruas bastante movimentadas com tráfego intenso. Era uma casa de dois andares. No andar de baixo havia uma sala grande, um quarto, um banheiro, a cozinha, uma pequena copa e no andar de cima, subindo a escada a disposição dos cômodos era: primeiro vinha uma saleta que dava para um corredor no qual tinha uma porta para mais um banheiro e duas outras portas que correspondiam a mais dois quartos. O primeiro quarto e a saleta ambos possuíam uma grande janela que dava para lateral da casa, tendo como vista, ao olhar para baixo um pequeno quintal que mais parecia um corredor comprido onde havia o espaço quase somente para colocar cerca de três a quatro carros um atrás do outro e o último quarto era o maior de todos e dava para frente da casa.

Ao acabar todas as arrumações e desencaixotar tudo, voltei a minha rotina diária de trabalho, aproveitei para me mudar em uma sexta feita e passei o final de semana todo nas arrumações com amigos meus e acabei avisando que iria voltar ao batente só na terça-feira.

Terça feira correu tranqüilamente e quarta também, porém ao chegar bem mais tarde na quinta feira, ao parar o carro para abrir o pequeno portão da garagem, notei que havia uma mulher dentro de casa no segundo andar que pela janela da saleta escura olhava para fora com a janela fechada e era como se não houvesse notado a minha presença. Fiquei atônito e ao mesmo tempo sem entender quem era aquela mulher que estava ali. Raciocinei e saí do carro imediatamente. Vi que provavelmente era a antiga moradora, já que não havia ainda trocado a fechadura das portas. Abri a porta de casa, liguei as luz da escada e correndo e fui tomar satisfação com a invasora. Porém ao chegar a saleta, liguei a luz e não havia ninguém, bem como em todos os cômodos da casa, tanto em cima quanto embaixo. Não estava acreditando que pudesse ser imaginação. Era muito real para mim. Fiquei ainda buscando pela casa pelo menos um indício de alguém, mas nada, tudo em vão.

Lá pelas 23:30 hs, tratei de comer alguma coisa e ir dormir. Mas ainda bastante intrigado com que havia visto.

A sexta feira, dia seguinte, correu tranqüila e ao parar o carro ainda tive o cuidado de observar bem tudo a volta da casa mas estava tudo normal. No final de semana alguns amigos vieram me visitar e três deles acabaram passando o final de semana comigo e indo embora no domingo a noite. Havia sido um fim de semana bastante divertido.

Na semana seguinte tudo correu normalmente até sexta feira quando ao chegar em casa a luz da saleta estava ligada (essa saleta onde eu tinha visto a mulher na janela). Deixei o carro lá fora mesmo e entrei na casa, subi as escadas e a saleta estava escura, totalmente escura. Não era possível eu tinha visto ela ligada lá fora. Novamente percorri a casa toda várias vezes feito um débil mental sem que nada houvesse de anormal.

Como não precisaria acordar cedo no dia seguinte fui ver um filme na sala de baixo e acabei dormindo. Acordando assustado lá pelas duas da manhã, senti um assopro no meio da cara e a televisão continuava ligada. Ouvi barulhos no andar de cima como passos e ao chegar no meio da escada e morrendo de medo ouvi barulhos da porta do armário que ficava embaixo da pia do banheiro do andar de cima, batendo freneticamente, sabia que era de lá o barulho porque essas portas de baixo da pia faziam um barulho igual ao que estava ouvindo agora.

Quarta, ao voltar do trabalho, avistei novamente aquela mulher, a luz estava acesa, desta vez prestei mais atenção nela e era como se não percebesse que estava ali embaixo, fiquei todo arrepiado, imagina uma mulher que você nunca viu estar dentro da sua casa? Fiquei observando de dentro do carro antes de saltar e abrir o pequeno portão. Com a luz acesa deu para ver melhor, era uma mulher que deveria ter seus quarenta e poucos anos, cabelos um pouco abaixo dos ombros, não muito longos e não eram muito pretos, talvez para castanhos e o olhar era para frente um olhar perdido e preocupado. E poucos segundos depois ela virou de costas para janela e caminhou para mais dentro da casa. Fui direto para porta abri e corri a sala toda e liguei o interruptor da escada subindo agora vagarosamente e totalmente amedrontado e chegando no final da escada liguei a luz da saleta e novamente tudo normal. Novamente percorri a casa de novo e nada.

Passou-se quase uma semana e ao chegar com o carro a luz da saleta estava acesa sem ninguém na janela e novamente a mesma coisa, ou seja, tudo em paz. A diferença é que a luz da saleta continuou acesa.quando cheguei lá em cima. Estava realmente transtornado com tudo isso.

Não tinha falado com ninguém até então, porque fiquei sem graça do que poderiam achar. Mas minha irmã me ligou dizendo que apareceu para conhecer a casa nova mas que não havia me encontrado. Depois de esperar cerca de meia hora em um degrauzinho do portão de entrada da casa, resolveu ir passear até o fim da rua para passar o tempo e me disse que ao voltar, ainda longe pode avistar uma mulher dentro da casa na janela lateral (a luz estava apagada segundo ela) e pensou que fosse uma amiga minha e que eu havia chegado, porém ao tocar a campainha, nada, ninguém atendeu. Ainda insistiu um pouco e nada. Pensou que não quisesse receber ninguém pois estava com visitas. Resolveu ir embora e me disse isso tudo com essas palavras. Fiquei boquiaberto e então contei o que estava se passando e ela achou tudo incrível e arrepiante e disse que iria me visitar e dormir uns dias por lá.

Entrei de férias naquele dia e então minha irmã estava disposta a saber mais detalhes sobre estes acontecimentos. No dia seguinte fomos sondar com vizinhos se notavam alguma coisa estranha e dois vizinhos disseram que de vez em quando notavam a luz da saleta ligada e que pelo menos um deles viu a mesma mulher na janela por três vezes e que logo foi mais para dentro da casa. Ninguém conhecia os vizinhos anteriores suficientemente para dar mais detalhes. Nesta mesma noite, minha irmã que estava dormindo no quarto do lado veio me acordar e disse que ouviu a porta do quarto fechar violentamente e abrir novamente e barulhos como golpes nas paredes do quarto. Correu para minha cama e dormiu comigo, mas quando estávamos cochilando novamente um barulho imenso vindo do quarto ao lado como se a cama estivesse sendo arrastada ou móveis sendo arrastados. Fomos ver então o que era pé ante pé e de mãos dadas. E o quarto estava todo normal, incrivelmente silencioso.

Vimos então que não conseguiríamos dormir naquele momento e fomos para o andar de baixo para fazer um lanche. Minha irmã adorava essas coisas sobrenaturais e estava muito assustada, mas ao mesmo tempo excitadíssima com as experiências. Ainda mais que havia visto a mesma mulher que eu descrevi.

Estávamos na copa comendo um misto quente e café quando ouvimos um barulho de coisa caindo no andar de cima e logo em seguida outro de coisa sendo arrastada, fazendo um chiado abafado e logo em seguida algo caindo e ao mesmo tempo sendo arrastado e esse barulhos assustador continuou com alguns intervalos por mais uns dois minutos. Depois disso a casa ficou completamente silenciosa. Talvez se minha irmã não tivesse comigo diria que estava realmente ficando louco, porém agora tinha ela como prova.

Dois dias depois estávamos na cozinha fazendo um macarrão para jantar e conversando quando nossa conversa foi cortada por um grito agudo em algum lugar dos cômodos, ficamos paralisados um olhando para cara do outro e a casa ficou bastante fria nesse momento vinha uma corrente de ar sem explicação porque a casa estava fechada e ainda não tínhamos aberto a casa pois tínhamos acabado de chegar da rua. Olhei para minha irmã e ela estava esfregando os ombros e rindo de puro nervoso e a temperatura caiu bastante, esfriou muito rapidamente e eu estava realmente ficando apavorado com tudo isso.

O engraçado era que havia dias que não acontecia nada e outros acontecia alguma coisa ou uma porção de coisas juntas. Passei a dormir no quarto do andar de baixo porque nesse quarto parecia que nada acontecia. Houve um dia que estava na sala lendo o jornal à noite e simplesmente um taco do piso da sala zuniu bem na minha frente pegando o jornal que eu estava lendo, foi um susto grande. Tudo bem que a casa era velha, mas bem conservada, havia alguns tacos soltos, mas nada que pudesse fazer eles voarem daquele jeito. Havia também passos que subiam e desciam os degraus da escada bem como continuei a chegar em casa ver algumas vezes a luz da saleta ligada e ao entrar na casa ela já estava desligada ou continuava ligada e a mulher só vi poucas vezes no tempo em que fiquei por lá que foi no total de seis meses. Aquilo estava virando um verdadeiro inferno, pois não tinha paz em minha própria casa e virei um tremendo medroso e para onde quer que eu fosse ia ligando todas as luzes dos cômodos feito criancinha.

Um amigo meu um dia foi lá em casa e sentiu ao sair do banheiro do andar de cima umas cutucadas em sua costela, ficou realmente sem ação porque não havia ninguém ali do seu lado. Tinha também um castiçal de prata muito bonito que ficava com uma vela no centro da mesa da sala e a vela simplesmente atingiu a cabeça de um primo meu na presença de mais um outro primo e dois amigos meus quando batíamos papo animadamente na sala.

Acabei ficando somente seis meses com a casa porque não queria mais ficar passando por constrangimentos perante amigos e até mesmo sozinho ficando sempre sobressaltado com cada novidade. As vezes ficava até mesmo duas, três semanas sem que houvesse alguma manifestação na casa, porém, quando eu achava que estava tudo acabado era pego novamente de surpresa. As surpresas variavam muito: havia uma espécie de soluços sem estar mais ninguém em casa, os gritos foram muito poucos que escutei, havia sons como golpes nas paredes, barulho de chocalho pela casa, a luz irritante da saleta que acendia e apagava quando queria, tampas de panelas voavam pela cozinha, as portas do armário da pia do banheiro de cima que batiam, raramente vi vultos entrando nos cômodos, barulho de moedas caindo no chão sem ter moedas no chão, correntes de ar, barulho de ave batendo as asas, houve somente uma vez em que senti algum contato físico. Estava na escrivaninha escrevendo e senti apertarem o meu pulso com uma certa pressão e depois largarem, foi realmente inacreditável.

Fiquei muito sem graça quando uma amiga do tempo da faculdade estava lá em casa e de repente ela veio caindo escada abaixo e machucou o joelho e canela. Fui passar água oxigenada que tinha em casa e ela me disse que estava passando pela saleta quando ouviu barulho de passos fortes no final do corredor vindo em direção a ela e o que fez ela ficar mais apavorada é que não havia nada ali e somente os passos bem fortes chegando cada vez mais perto dela e no seu desespero desceu as escadas correndo, acabando por cair pelas escadas.

Essa é a minha história, verdadeira, pelo qual passei e ninguém pode me dizer que fantasmas não existem porque eu presenciei várias coisas e já ouvia histórias de amigos meus que passaram por coisas parecidas, sem prestar muita atenção a eles até o dia que senti na própria pele.


Rodrigo - RJ - Rio de Janeiro