Minha cópia

Muitos começam as suas histórias com "Eu sempre acreditei nisso" ou "Eu nunca acreditei nessas coisas, até que aconteceram comigo..." É um bom jeito para se começar, por que se eu te disser que eu sempre tive um interesse descomunal no Paranormal, alguma coisa em você não vai acreditar no que eu tenho para te contar. Mas eu te peço para acreditar em mim, e apesar de você não me conhecer e provavelmente nunca me conhecerá, o que eu tenho para relatar é real.

Depois de um divórcio um pouco doloroso, eu me mudei com a minha mãe para São Paulo, uma cidade que acabou me encantando e cativando o meu coração. Nós nos mudamos para um apartamento lindo e maravilhoso. Ele é grande, com portas pesadas e de madeira maciça, janelas compridas e altas, assim como o teto. Mesmo no meio da noite mais escura, ele é claro e arejado.

No momento em que nós entramos, eu senti uma presença. Eu sabia que tinha algo nele. Depois de pouco tempo isso foi comprovado. Era uma massa ausente de luz, grande e volumosa, que parecia sugar o ar sempre que estava em algum quarto. Eu geralmente o via (eu não sei por que, mas eu sempre senti que era uma presença masculina) onde parecia ser o lugar favorito dele, ao pé da minha cama. Mas depois de um tempo e alguns sustos eu me acostumei com ele - ele parecia só querer me olhar. Mas quando os meus novos amigos começaram a em visitar... coisas começaram a acontecer.

"Lu, porque você me acordou no meio da noite?" "Eu não te acordei, eu dormi a noite inteira". Isso foi o que a Ana, uma amiga minha, me perguntou em um dia que ela dormiu aqui. Ela falou que eu acordei ela no meio de um sonho um pouco violento e falei que estava tudo bem, mas eu passei a noite inteira dormindo no meu quarto, enquanto que ela ficou dormindo no quarto extra que a gente tem para visitas. E eu não sou sonâmbula.

O Gabriel e a Laura (outros dois amigos da faculdade, eles são namorados) uma noite acordaram gritando. Os dois estavam dormindo na sala depois que a gente tinha voltado de uma festa. Eles estavam tendo o mesmo sonho sobre a morte, antes de acordar. E quando acordaram eles sentiram como se tivesse alguém olhando eles do armário da sala, e que esse alguém estava jogando essas imagens violentas na cabeça deles. Quando eu fui ver se eles estavam bem, eles estavam tremendo e brancos de medo. Eles não podiam acreditar que tinham tido o mesmo sonho.

Eu já sonhei varias vezes que eu estava flutuando pelos espelhos do apartamento, e voava para trás de quem estava se olhando neles e cortava a garganta deles. Foi horrível e lembrar desse sonho ainda me assusta até hoje.

Mas o que me assusta mais mesmo é a minha outra eu, a minha "gêmea", a minha cópia. Como eu disse, a Ana falou que ela a acordou para dizer que estava tudo bem. Um outra vez, o Michel, um outro bom amigo meu, estava tagarelando no meu quarto. Eu sai da cozinha e fui perguntar com quem ele estava falando tanto. Ele olhou assustado para mim, falando que estava falando comigo, que eu tinha entrado no quarto falado com ele e entrado no banheiro! Claro que o banheiro estava vazio, não tinha ninguém lá. A Ísis (uma outra amiga) também passou pela exata mesma coisa. Ela estava no meu quarto e eu estava na cozinha, então eu vi ela passando pela porta indo em direção à sala, falando pelos cotovelos e de repente ficou quieta. Quando eu sai da cozinha para ver o que tinha acontecido, ela falou que eu entrei no quarto, falei com ela e sai e fui para a sala e ela veio atrás, só que quando chegou na sala, eu não estava mais lá, e a sala NÃO tem ligação nenhuma com a cozinha. o Michel, a Ana e a Ísis se recusaram a dormir aqui no apartamento de novo - todos os três viram a minha cópia e também tiveram o sonho onde eu estou dentro do armário, gritando para eles que alguma coisa estava me atacando, para depois serem acordados pela minha cópia falando que estava tudo bem.

A minha resposta para isso tudo? Eu tive um colapso nervoso no meu quarto depois do divórcio dos meus pais e ter me mudado para uma cidade nova e gigantesca e mudado completamente a minha vida, e eu acho que isso ficou de algum jeito preso lá dentro, e as vezes isso tudo sai para passear, como se fosse uma gravação minha. Ela não te machuca, mas perturba o seus sonhos. Eu tentei exorcizar o quarto, fazendo purificação dos elementos -água, ar, terra e fogo- mas ela ainda continua por aqui. Talvez ela seja a minha loucura, e se esse for o caso, eu estou grata por ela não estar mais em mim. Talvez o homem que as vezes fica no pé da minha cama, a massa com a ausência de luz, pegou a minha forma de todo o medo e dor que eu passei quando me mudei para cá. De qualquer modo, a minha cópia aterroriza os meus amigos (o Michel entrou em choque depois que ele passou pelo que passou, e teve que ser acalmado por algumas horas, com muito chá quente e doce). Talvez eu tenha uma personalidade mais forte do que eu pensei.


Luciana - SP - São Paulo