Minha bisavó - 2

Eu nem sei se este meu relato seria mesmo de ordem sobrenatural, mas diferente dos meus últimos que foram mais hilários que emocionante, este sim é muito bonito.

Isto aconteceu no final dos anos setenta, e eu creio que uns anos antes de eu nascer, pois eu não tenho muitas lembranças daquela época. Então a narração é mais da minha mãe mesmo.

Minha bisavó, que na época era uma senhora de cerca de setenta anos, sofreu pela primeira vez na vida um acidente colhendo rosas brancas em seu jardim, e quebrou o braço. Mas, por ser uma mulher forte que nunca tinha ido ao médico, se viu assustada, pois por sua idade avançada acabou passando por "checape" completo pelos médicos.

Então num desses exames foi detectado que ela estava com um tumor no útero em estado avançado, pois aquele tipo de malignidade é silencioso e ela nada sentia. Mas na precariedade da cidade de interior somado aos poucos tratamentos médicos da época, o médico que eu creio que nem era especialista, que a operou, disse que ela teria poucos meses de vida.

Eu não sei ao certo se falaram para ela seu real estado de saúde, mas acho que percebendo os cuidados exacerbados que recebia, imagino que ela deve ter ficado desconfiada.

Eis que chegaram à cidade e se instalaram no quintal de um amigo de carteado do meu avô, uma missão protestante, cuja seita eu não sei ao certo qual ramificação seria, só sei que não eram pentecostais radicais ou de extrema direita, pois pelo que me recordo, me lembro do velho pastor jogando cartas com os amigos do meu avô, assim na maior humildade, sem se achar melhor que ninguém, ou temer ser contaminado pelos hábitos dos pecadores.

Sabendo da novidade, minha bisavó que era católica pediu para que meu avô lhe trouxesse uma garrafa de água benta pelo missionário. O que foi atendida prontamente, já que minha família nunca foi dada a separações desse tipo. O pastor também começou a freqüentar a casa de meus avós, não só para jogar carteado ou para orar para ela, mas no intuito de amizade desinteressada também.

Então minha bisa começou a beber a água benta, a se ungir com os óleos santos. Ao poucos, os poucos meses de vida dela foram aumentados e ela viveu cerca de 35 anos depois do ocorrido. Minha bisa frequentou a igreja protestante daquela missão por anos, ia ao catolicismo, frequentou um tempo outras seitas, mas sua fé e o carinho daqueles irmãos missionários a acompanhou pelo resto de sua vida.

Nunca aconteceu nada de teatral, tipo uma cura em um culto, alguma coisa que saiu dela supostamente materializado, nem ela precisou de nenhuma sessão de exorcismo, por exemplo, nem a frase feita "aceita Jesus?" eu creio que ela fez, até porque eu me recordo que aquelas pessoas não eram afeitas a esse tipo de coisa, eram muito sensatos. Mas para ela sim, ocorreu uma cura milagrosa; e eu sempre me recordo com carinho dela falando que: "todo mundo vai ficar com inveja de mim quando me virem passeando no jardim do éden de braço dado com Jesus".

Mas aqueles missionários sim faziam realmente o que o Mestre "Juju" sugeriu: "Quando um ou mais estiverem reunidos em meu Nome, lá eu estarei". Milagres reais acontecem todos os dias e eles não precisam de propaganda, nem de exageros: o maior deles fala direto ao coração. E quem sou eu para duvidar?


Jaqueline Cristina