Meu tio-avô

Eu já contei em outros relatos as histórias de assombração do meu avô. Mas ao contrário dele, que tirava de letra aqueles episódios, seu irmão caçula, coitado, só pagava mico!

Meu tio-avô, que também seguia a linhagem tradicional se tornara militar, e foi policial militar e esteve na ativa por quase trinta anos. Me faz pensar por quantos apuros, aquele matuto passou atendendo ocorrências na Grande São Paulo, onde passou a maior parte de sua vida profissional.

E como diz meu amigo do Sobrenatural.org, Ricardo Andrade, ô família que eu tenho! Putz grilo!

Uma das primeiras histórias que ele me contou, foi um fato ocorrido na época que ele ainda estava servindo as Forças Armadas; ele, o sentinela responsável pela guarda de um hangar da FAB. Este hangar era famoso por possuir histórias sobrenaturais, até porque rezava a lenda que um galpão específico guardava entre as tralhas, destroços de aviões abatidos na 2º. Guerra. Portanto, relatos de gritos, tiros, gemidos dentro do hangar era comum; e nas palavras de meu tio, o hangar dava mal-estar até mesmo durante o dia.

Mas, como diz o bordão do Capitão Nascimento: "Missão dada é missão cumprida", o coitado do moleque, reco de uns 18 anos, foi designado a montar guarda pela madrugada no tal hangar. Sem outra opção, o coitado foi lá cumprir com seu dever, mas conseguiria sem problemas se não fosse o tal lobisomem que o atacou. Eu digo lobisomem, não porque eu sou fã da saga dos emos, mas porque foi ele mesmo que me disse esta palavra.

A noite estava clara, com a lua linda, e dava para enxergar mesmo no meio do mato. Então ele resolveu acender um cigarro e fumar escondido, pois ele estava sozinho, e dava para ouvir e ver alguém se aproximando a distancia. Ele entrou atrás do galpão, baixou a guarda, acendeu o cigarro tranquilamente quando ele viu que algo se mexeu atrás de uma moita. Mas ele achou que seria algum animal, mas com o cheiro da fumaça ele teria medo de se aproximar, pois crescer na roça tem lá suas vantagens.

Então ele se aconchegou à parede e ficou lá, fumando tranqüilo, quando ele percebeu que de repente algo se encostou a suas costas. Mas, por frações de segundos ele percebeu que não se tratava de algum superior, ou outro soldado, pois ele sentiu que pelos bem duros e longos atravessavam a farda e espetavam sua pele. Com o susto, ele contou que só teve tempo e coragem para olhar de soslaio para seu ombro e ver um tufo de pelos escuros colados em seu braço, e ainda sentiu um bafo quente e fedorento em seu pescoço.

Meu tio disse que só conseguiu ter forças para sair correndo sem olhar para trás, e até se esqueceu: estava armado, correndo com o cigarro na boca, e que teria que explicar o motivo de abandonar seu posto. Mas, como o tal hangar era famoso, creio que não levaram adiante a punição, e ele nunca mais foi destacado para montar guarda por lá nem durante o dia.

A outra história aconteceu quando ele já era policial, e estava de folga em casa. Minha bisa ainda era viva e morava com ele. Minha tia e meus primos já estavam dormindo e os dois ficaram fumando (eles fumam para caramba) na sala assistindo uma seção coruja. Até que acabou o fumo do cachimbo da Vó, e ela foi para o quarto dormir, enquanto ele ficou espichado no sofá de frente à TV. Então tempos depois, ele viu que ela não tinha ido pro quarto e sim à cozinha e escutou quando ela se aproximou da sala, arrastando seus chinelos, e parou repentinamente atrás da cortina.

Então ele falou:

- Mãe, a senhora ainda está acordada?

Mas ela não respondeu e continuou parada no corredor.

- Mãe, tá tudo bem? A senhora está passando mal?

Foi quando ela respondeu e saiu do quarto, do lado oposto da cortina, e veio ver o que ele queria.

Ele deu um salto do sofá e viu que havia um vulto de uma velha atrás do tecido; no susto ele puxou a cortina e não tinha nada. Então a bisa o mandou dormir porque segundo ela: "A noite é feita para os mortos viverem, pois o sono é a morte dos vivos". E sem pestanejar ele obedeceu, afinal o medo já tinha chegado e não valia a pena saber como o filme terminaria.

Agora o último relato, creio que não tenha sido algo de cunho inexplicável.

Ele tinha saído para ir de novo a um matagal durante a madrugada, atender uma ocorrência de um assassinato. Por sorte, ele não estava sozinho, e seu companheiro ficou esperando a chegada da polícia civil. Mas, aconteceu algo com o outro policial.

Seu amigo foi acometido de um arrombo repentino e teve que se afastar, entrando no matagal; enquanto ele ficou rindo fumando do lado de fora da viatura. Mas aí a coisa ficou feia, o tal defunto que estava em estado lastimável, todo ensangüentado, e eu imagino que ocorreu o fenômeno do rigor post mortem: o morto se levantou e se sentou.

Porém, no mesmo tempo que o cadáver se levantou, caiu em seguida, mas para ele, teve a impressão que a vítima tinha olhado para ele com cara de pavor. Bem, felizmente eu não tive a oportunidade de ver alguém que morreu em situação violenta, e imagino que as feições faciais sejam horríveis, de pavor mesmo.

Mas, ele novamente se esqueceu da pistola, do cigarro, sua função profissional que fosse para o escambau a quatro, saiu em disparada na direção de seu amigo no meio do mato, e acabou se chocando com o coitado. Mas ele não entrou em detalhes com o que aconteceu em seguida, só sei que depois disso, ele só entendeu quando conversou com o médico legista.

Pois afinal, o medo acaba piorando uma situação que talvez fosse racionalmente explicada.


Jaqueline Cristina