Insônia na madrugada

Em 1983 me mudei para um apartamento em que um quarto tinha vista para o Cristo Redentor e o outro quarto este era de fundos tendo vista para os fundos de outro apartamento.

Logo nas primeiras noites eu tinha insônia, era uma coisa freqüente na minha vida e ficava procurando o que fazer e como muitas vezes não tinha nada que interessasse ou prestasse na televisão eu ficava fazendo tapeçaria, um dos meus grandes prazeres ou ia para janela fumar e pensar na vida. Estava na janela do quarto da frente e fui para janela do quarto dos fundos e fiquei por lá fumando o meu cigarro. Quando observei a minha vizinha do apartamento em frente pela primeira vez, (fazia duas semanas que me mudara).

Ela estava na área de serviço no escuro assim como eu estava no meu apartamento no escuro também e ela estava com uma atitude bastante preocupada indo de um lado para o outro da área de serviço. As vezes parava olhando o chão e com a o braço levantado e a mão no queixo e com o outro braço cruzado junto ao corpo. Ficava um tempo assim e depois voltava a andar de uma ponta a outra da área e depois voltou para dentro do apartamento. Fiquei com muita pena dela, parecia estar bastante preocupada.

Passados três dias e com mais um dos dias de insônia eu tentei me distrair fazendo um bolo e enquanto ele assava fui fumar na janela da frente e zanzando pelo apartamento acabei indo para janela do quarto dos fundos e qual não foi minha surpresa quando a vizinha do apartamento da frente e que os fundos dava para os fundos do meu apartamento estava novamente ali. Tentei ver até mesmo se ela notava minha presença. Quem sabe poderíamos ficar amigas e ela até desabafar? Afinal de contas, pelo jeito tinha muita insônia, assim como eu. Mas ela não olhava na minha direção de tão preocupada com seus problemas. Acabei de fumar e fui dormir.

Passados poucos dias, eu novamente fumando já de madrugada e fui para área de serviço e novamente ela estava ali. Mas desta vez estava bastante intrigada pois parecia uma pessoa que estava precisando muito de ajuda. Sei lá, de uma palavra amiga. Mas ela ficava olhando para o chão, para o teto virava e voltava entrando pela cozinha novamente. Mas quando essa mesma cena aconteceu novamente e já que não era tão tarde assim, em comparação com as outras vezes que já era de madrugada, acho que por volta de 11:30 da noite e as luzes da área de serviço e cozinha estavam acesas, deu para ver melhor a sua fisionomia preocupada e triste, foi quando eu que sempre fui muito discreta arrisquei e fui até o apartamento dela e toquei a campainha. Algo me dizia que deveria falar com ela, nem sequer sabia o que iria dizer mas já estava arrumando um pretexto qualquer nem que fosse pedir um pouco de açúcar etc... talvez eu pudesse ajudar. Mas fiquei ali tocando a campainha e ela não veio me atender tive até a impressão de ela ter me visto pelo olho mágico pois pelo olho mágico da porta tinha um mínimo de claridade que de repente ficou escuro e via luz dentro do apartamento saindo pela fresta da porta social do apartamento assim como uma leve sombra se movimentando na pequena claridade saindo pela fresta. Como não atendeu e não queria ser inconveniente eu fui embora.

Ao fazer amizade com outra vizinha do apartamento abaixo do meu eu falei que sofria de insônia tal como a minha vizinha o qual ainda não conhecia, pois ela ficava na área de serviço durante muito tempo de madrugada e a minha surpresa me fez gelar o sangue quando a minha vizinha de baixo disse que a mulher que morava no apartamento em frente ao meu havia se suicidado no apartamento havia dois meses e ele estava fechado com seus pertences, pois seus familiares estavam tratando da herança.


Luiza Costa - RJ - Rio de Janeiro