Fericul

Eu gostaria de começar dando algumas informações sobre mim.

Eu tenho 20 anos, moro em São Paulo, eu passei toda a minha infância aqui e nunca tinha saído do Estado de São Paulo. Um dia, em julho do ano passado, eu ganhei uma viagem para os Estados Unidos no meu curso de inglês. Eu podia escolher para que estado eu poderia ir, e eu escolhi New York, já que eu tinha um amigo (Adam) que morava lá.

Quando eu fui para lá nós nos encontramos e ele me mostrou a cidade onde mora (que fica BEM longe da cidade de New York). Nós tínhamos nos conhecido 3 anos antes, quando o pai dele veio representar um cliente da empresa onde o meu pai trabalha. Ele veio junto, e como o pai dele e o meu pai passaram muito tempo junto vendo assuntos de trabalho, eu acabei fazendo amizade com ele, e viramos grandes amigos desde então. Sempre conversávamos via internet (messenger, chat, vídeo chat...) Nós ficamos felizes por nos encontrarmos novamente e passar um tempo juntos. Depois de passar um bom tempo em New York fazendo coisas típicas de turista (ver jogo de baseball, andar de metro, ver o Empire State, a estátua da liberdade) nós fomos para a cidade onde ele mora. Chegando lá passamos por uma vendinha caseira (yard sale). Como nunca tinha visto aquilo arrastei o Adam até lá para ver o que tinha para vender. Eu vi uma tabua Ouija e achei aquilo maravilhoso! Parecia que ela tinha sido feita à mão, era um fino pedaço de madeira, pintado de branco/creme, com símbolos pintados em preto pelas bordas, e no canto esquerdo tinha a assinatura Fericul. Eu adorei aquilo assim que coloquei os olhos em cima.

O Adam não gostou muito. Ele é wiccano e sentiu vibrações nada boas vindo daquela tábua. Ele falou que ela era má! Ele praticamente se jogou pra trás quando eu mostrei a tábua para ele, eu só pensei que ele estivesse fazendo gracinha. Eu acredito em fantasmas e Mágika, mas como nunca vi nada sobrenatural, nunca fiquei muito assustada com o assunto, então acabei comprando a tábua por $50 (ela era realmente muito bonita e bem feita). Eu perguntei para a moça quem era Fericul e era falou que não sabia, que a tábua era da mãe dela, e ela tinha ficado com a tábua depois que a mãe dela faleceu (ela não deu muitos detalhes, não queria falar muito sobre o assunto, mas parecia feliz em se livrar da tábua.) Dava para ver que era bem velha, pelo menos uns 70 anos. A pintura já estava um pouco envelhecida e um pouco apagada. Havia algumas marcas de batidas pelas bordas e estava faltando a parte que as pessoas seguram para interagir com a tábua. Mas eu achei ela muito charmosa e levei assim mesmo.

O Adam não gostou muito de ficar com a tábua ouija na casa dele, mas como eu estaria indo embora em 3 dias, ele não se importava muito, contanto que ficasse fechada dentro da minha mala. Eu não tive problemas até voltar para a minha casa. Eu já estava com saudades do Adam, mas estava feliz por estar em casa. Depois de dormir por um dia inteiro por causa da viagem cansativa, eu convidei um amigo meu, Digo, para ver a minha tábua Ouija e experimentarmos ela.

Ele a adorou tanto quanto eu. Nós dois gostamos de ler histórias de fantasmas, ver filmes de terror e dessas coisas a ver com o paranormal. Nós decidimos usar um copo para usar na tábua. Esvaziamos as nossas mentes e depois de nos concentrarmos um pouco e eu perguntei "há alguém ai?" algumas vezes, até que tivemos uma resposta. Sem muita cerimônia o copo foi para o YES (a tábua estava em inglês). Eu perguntei o nome do espírito e ele soletrou FERICUL. Nós ficamos empolgados, pois parecíamos ter contatado quem tinha feito a tábua. De repente o Digo fechou a cara. "Fericul" ele sussurrou. Eu perguntei o que ele tinha, ele apontou para o nome na tábua e falou "pensa um pouco". Oh droga Lili-anta! Como eu não tinha percebido isso antes!!! Geralmente eu sou boa com esse tipo de coisa! Fericul é um anagrama para Lúcifer! Beleza, eu pensei, um espírito com o ego inflado. Eu não achava que quem estava lá era o capeta em pessoa (ou melhor, em espírito). Se ele realmente existisse, ele teria coisas mais importantes para fazer além de encarnar na minha tábua. O copo começou a se mover novamente, VOCÊ ME LIBERTOU. "Como assim?" eu perguntei. O copo voou das nossas mãos e bateu contra a parede. Nós dois ficamos lá sentados por um tempo, olhando para a parede e para os cacos de vidro azuis do copo quebrado no chão. Então o Digo olhou para mim e falou que não era uma boa idéia eu ficar com aquela tábua, mas eu estava decidida a não deixar um espírito egocêntrico me assustar. Ta, ele podia quebrar um copo. Mas isso não me pareceu grande coisa, a minha irmã mais nova fazia isso o tempo todo quando tinha 4 anos. O Digo foi embora pouco tempo depois, mas antes me ajudou a limpar os cacos de vidro do chão.

Eu fiquei acordada até mais tarde, vendo TV e então decidi ir para a cama. Quando eu fui dormir, eu coloquei um CD para tocar, já que o silêncio me incomoda e não tinha mais ninguém em casa. Apertei PLAY e REPEAT para o CD ficar tocando sem parar e fui dormir. Eu acordei exatamente no meio da noite, o que era estranho, já que eu tenho um sono muito pesado e praticamente nunca acordo durante a noite, só quando o telefone ou o alarme toca. Eu olhei para o relógio e eram exatamente 00:43. Então eu ouvi um som, que parecia ser de assas batendo. Eu acendi a luz e o som parou imediatamente. Eu fiquei quieta, naquele silêncio todo por uns cinco minutos, tentando ver o que poderia ser aquele barulho, até notar que o meu CD tinha parado de tocar. Na hora eu achei que tinha esquecido de apertar o botão REPEAT, então sai de baixo das cobertas e me estiquei até o pé da minha cama. O meu coração congelou quando eu vi a tampa do CD aberta. Eu estava sozinha em casa e não tenho nenhum bicho de estimação para pular em cima do som e abrir a tampa do CD. Eu senti aquele frio se espalhando pelas minhas costas. EU resolvi que era melhor não pensar naquilo, fechei a tampa do CD, apertei PLAY e REPEAT de novo e voltei para debaixo das cobertas. Eu fiquei deitada acordada no escuro por um bom tempo, e já estava pensando em fazer algum chá para me ajudar a dormir, quando o CD parou de tocar e eu ouvi um click. A minha mão foi direto para o interruptor da luz, foi tão rápida que quando a luz acendeu, eu vi a tampa do CD acabar de abrir.

Naquele ponto eu me convenci que eu dormi tudo o que eu dormiria naquela noite. Eu me levantei e decidi me contatar com Fericul para ver se era ele que estava fazendo aquilo. Eu coloquei a tábua no chão da sala, arrumei um outro copo e mal coloquei o dedo em cima, o copo começou a dar voltas pela tábua, na forma de um 8. "Você abriu a tampa do meu som?" SIM "Porque?" CHAMAR SUA ATENÇÃO "Porque você quer chamar a minha atenção?" ASSUSTAR VOCÊ "Porque você quer me assustar?" PARA SER LIVRE "Você só está livre quando está assustando alguém?" SIM "Você está ligado a essa Tábua?" SIM "Onde quer que a tábua vá, você também vai?" SIM "Eu vou me livrar dessa tábua amanhã, e você vai junto com ela!" NÃO "Mas você tem que ir, está ligado a ela" NÃO SE FOR DERRAMADO "Se o que for derramado?" SEU SANGUE ME LIBERTARÁ "Se você me machucar eu vou chamar um Padre para te expulsar dessa casa direto para o inferno." O SEU SANGUE SERA DERRAMADO VOCÊ SERÁ MINHA "Como assim?" DEPOIS QUE EU PROVAR O SEU SANGUE EU TE MATAREI E LEVAREI A SUA ALMA PARA O INFERNO Depois disso eu empurrei o copo para o goodbye (para o espírito ir embora) e tranquei a tábua em um armário de vidro da sala, onde a minha mãe guarda umas bonequinhas de louça. Eu subi a escada correndo e sentei na minha cama, literalmente tremendo de medo.

Depois de quase uma hora, eu ouvi sons vindo lá de baixo. Sons de alguma coisa sendo arrastada na madeira, o som do copo sendo arrastado pela tábua, só que mais alto. Eu peguei um crucifixo que eu tenho pendurado na parede e desci a escada bem devagar. O som estava vindo da sala e parou assim que eu coloquei o meu pé no último degrau da escada. Eu entrei sem fazer barulho nenhum na sala. Na hora não parecia ter nada de errado, mas quando eu fui ver a tábua, eu vi algo que me tirou o fôlego. Todas as bonequinhas da minha mãe que estavam na mesma prateleira da tábua, estavam viradas para o outro lado, como se estivessem com medo de ficar olhando para a tábua. O meu sangue ficou gelado, eu comecei a me afastar até bater com as costas na parede. Eu pisei em algo que entrou no meu pé, me fazendo soltar um grito e cair no chão. Eu agarrei o meu pé, tentando controlar a dor. Quando eu olhei a sola, um pedaço de vidro azul, cravado na sola do meu pé. Eu tirei ele e vi que era um pedaço do copo que tinha quebrado mais cedo, que eu e o Digo tínhamos usado na tábua. Mas eu não sabia como ele tinha ido parar lá, nós dois tínhamos limpado tudo, e um caco de vidro daquele tamanho seria fácil de se ver. De repente alguma coisa me acertou nas costas, como um chute. Eu gritei, mas uma chuva de golpes caiu em mim. Eu gritava e chorava, tentando segurar o agressor invisível, mas as minhas mãos não encontravam nada no ar. Eu acabei desmaiando pouco tempo depois com a violência dos golpes.

Eu acordei no hospital três dias depois. O Digo estava sentado do meu lado, com a minha mãe e o meu irmão. Eu falei para eles irem buscar algo para eu comer. Enquanto eles estavam fora, eu falei par o Digo o que tinha acontecido. O digo falou que o meu irmão estava chegando em casa e me ouviu gritando e me viu deitada no chão inconsciente, com uma poça de sangue no meu pé. Ele não viu mais ninguém lá e me levou correndo para o hospital. Eu pedi para o Digo se livrar daquela tábua para mim, para queimar ela, e assim que a minha mãe e o meu irmão voltaram ele foi para a minha casa, com o meu irmão, com o pretexto de pegar algo para mim.

O meu corpo estava completamente doido. Parecia que o mundo era feito de dor. Tudo estava dolorido e eu mal conseguia me mexer. Uma enfermeira veio me dar uma injeção para me ajudar a dormir um pouco e acabar com a dor. Quando eu acordei um médico estava falando com a minha mãe e falou que eu tinha quebrado uma clavícula, o pulso, algumas costelas, e tinha marcas que pareciam ser chibatadas ns minhas costas. Sem falar que o corte no meu pé agora pegava toda a base, saia um pouco depois do dedão e ia até o meu tornozelo. Depois ele perguntou para mim se uma Policial podia falar comigo. Eu falei que tudo bem. Ela entrou no quarto e perguntou o que tinha acontecido, se alguém tinha entrado em casa ou se eu tinha aberto a porta para algum estranho. Eu falei que não me lembrava de nada. Ela deixou um telefone e falou que se eu me lembrasse de algo era para ligar para ela. Quando ela saiu a minha mãe falou eles ficaram assustados, que acharam que alguém tinha entrado em casa e feito aquilo comigo, então chamaram a polícia.

O Digo voltou mais tarde naquele dia e falou que a tábua não estava mais lá em casa. Eu falei que eu tinha colocado no armário de vidro da sala e tinha trancado a porta, mas ele falou que ela não estava mais lá e nem em lugar nenhum do meu quarto e nem em lugar nenhum da minha casa, que ele e o meu irmão tinham procurado a maldita tábua pela casa toda e que não encontraram ela. Isso me deixou bem assustada, como aquela tábua tinha sumido? Aonde tinha ido parar? A única coisa que me alegrou foi que ela não estava mais em asa pelo menos. Eu fiquei no hospital pelo resto da semana. Algum tempo depois, com a ajuda de amigos e da minha família eu já estava completamente recuperada.

E essa foi a minha experiência com o sobrenatural. E se você pensa que isso me desencorajou a me aventurar no mundo sobrenatural, está enganado. O Digo e eu ainda vamos visitar alguns cemitérios, e eu continuo muito curiosa sobre o assunto. Mas chega de brincadeiras do copo e de tábuas de ouija para mim!

Eu contei para o Adam sobre o que aconteceu e ele falou um "Eu te disse!" E quanto á tábua, eu nunca mais vi ela, e tenho uma impressão de que nunca mais a verei.


Iliana - SP - São Paulo