Fantasma do meu bisavô

Quando eu era bem mais nova eu geralmente passava boa parte do verão na casa dos meus avós.

Um verão quando eu tinha doze anos, eu estava dormindo no quarto da minha tia. O quarto era na primeira porta no topo da escada, no segundo andar. Eu fui acordada pelos cachorros. A minha avó tinha dois cachorros que gostavam de dormir no topo da escada. Eles estavam rosnando para alguma coisa. Eu pensei que fosse para o gato da minha tia, então eu virei para o outro lado e voltei a dormir. Depois de um tempo os cachorros me acordaram de novo. Eu levantei e fui ver o que podia ser. Os cachorros tinham parado de rosnar, mas agora estavam em pé, olhando para o pé da escada. Eu achei que era o gato e fui lá ver, mas não tinha nada lá. Eu me virei e estava voltando pra a cama quando eu ouvi um barulho, alguém subindo a escada atrás de mim. De repente eu senti um frio muito grande, e me virei para ver quem era que estava subindo. Não tinha ninguém atrás de mim. Eu olhei para os cachorros e eles ainda estavam olhando o pé da escada. Eles começaram a rosnar de novo. Eu senti como se tivesse alguém ali. Eu fiquei com medo e sai correndo e me escondi debaixo das cobertas. Eu podia ouvir os cachorros rosnando e parecia que tinha alguém subindo e descendo a escada de novo. Eu fiquei embaixo das cobertas a noite toda.

Na manhã seguinte eu contei para a minha tia o que tinha acontecido na noite anterior. Ela me falou que era o meu bisavô. Ela falou que não era a primeira vez que aquilo acontecia. Ela falou que já fazia tempo que coisas estranhas acontecem lá. Pratos voavam pela casa e objetos mudavam de lugar sem que ninguém mexesse neles.

A minha tia falou que uma vez a minha avó estava lavando a louça e empilhou os pratos do lado, pra depois secá-los e guardá-los. Ela virou para fazer alguma outra coisa e quando virou de volta para secar os pratos, estavam todos enfileirados na pia. Ela falou que uma noite ela acordou com uma luz fraca no canto do quarto dela. Ela falou que ficou lá quase que a noite inteira, sem se mexer. Ela sentiu como se a luz estivesse observando ela. Ela tinha certeza de que era o meu bisavô.

A minha mãe nunca falou muito sobre o meu bisavô. Ela falou que os meus bisavós vieram para o Brasil porque o meu bisavô matou um padre que pegou ele roubando dinheiro da caixa dos pobres da igreja. Ele comprou a casa um pouco depois que chegou no Brasil. Ele nunca saia muito. A minha mãe falou que as poucas vezes que ela esteve perto dele, quando ele olhava para ela, dava para ver a maldade nos olhos dele. Alguns membros da família acreditam que ele estava possuído pelo próprio demônio. A família ficou bem aliviada depois que ele faleceu. Ele deixou a casa para o meu avô. Todos acreditam que o espírito do meu bisavô assombrava aquela casa.

Nada mais aconteceu comigo depois daquela noite, mas tinha certas partes da casa que eram muito frias, mesmo quando o aquecedor estava ligado.

Em 1995 a casa pegou fogo e queimou completamente. Os bombeiros que foram para lá falaram que ouviram gritos vindo de dentro da casa, mas depois não encontraram corpo de ninguém e todos da família que moravam lá tinham saído da casa e estavam bem, incluindo os cachorros e os gatos.

Você pode acreditar no que quiser, mas eu acredito que foi os gritos do espírito do meu bisavô que os bombeiros ouviram vindo de dentro da casa.


Aline - SP - São Paulo