Essa é a minha casa agora

Eu sou uma mulher de vinte anos que vive em uma cidade pequena no interior de Minas. Eu estou escrevendo essa história para encorajar as pessoas que sofrem com acontecimentos estranhos e perturbadores. Eu estive lá e venci! Eu sei que essa história é longa, mas assim que eu comecei a escrever, eu tive que botar tudo para fora.

Deixe-me esclarecer uma coisa antes de começar:

Eu não acredito em fantasmas na maneira tradicional. Eu realmente NÃO acredito que almas perdidas e confusas vagam pela face da terra. No entanto, eu acredito que as vezes certas coisas acontecem que desafiam qualquer explicação e eu mais do que acredito que Satanás gosta de enviar os seus amiguinhos para impressionar as pessoas e animais, para nos confundir e nos assustar até a insanidade. Não é uma idéia confortante. Eu preferiria que fosse a querida titia voltando para dar um último beijo de boa noite.

E agora que eu deixei isso claro, começa a minha história:

Eu não posso dizer que tudo começou quando nos mudamos para a casa. Por toda a minha vida eu tive aquela "sensação" estranha. Para a maioria das pessoas, é um arrepio na nuca ou um comichão nos braços. Para mim, é um sentimento de pavor que começa no fundo do estomago e vai subindo a espinha, fazendo todo os pelinhos do meu braço e da minha nuca arrepiarem. Normalmente dura apenas por uns dois segundos, as vezes alguns minutos. As vezes não para, só fica mais forte, me empurrando para a beira do pânico, e eu tenho que deixar o local onde estou. Eu fico me sentindo fraca e desorientada, com o coração acelerado, e geralmente fico nauseada.

As vezes eu sinto isso em um lugar que eu já imaginaria que aconteceria, tipo uma casa meio tenebrosa, ou quando uma lâmpada queima, deixando você na escuridão total. Muitas vezes acontece em lugares que eu não esperaria que acontecesse, tipo num mercado local, numa padaria ou no meio do mato (eu adoro passear na mata). Tem alguns lugares que eu simplesmente não consigo ir. As vezes, eu tenho impressões de uma certa pessoa, tipo, como se ela fosse perigosa. Eu aprendi a dar atenção para esses sentimentos, porque quando eu não dou atenção, coisas ruins acontecem.

Tudo começou a ter grandes proporções quando nos mudamos para a nossa casa. Era uma casa velha. Tão velha que ninguém realmente sabe quantos anos ela tem. Foi a segunda casa a ser construída na nossa rua, e nós moramos no "centro" da cidade. A casa do meu vizinho foi a terceira a ser construída, e ela tem cerca de quase 250 anos!!!

Quando a minha casa foi construída, ela era uma pequena casa de fazenda. Ela está consideravelmente maior agora, mas ainda da para notar o desenho original dela.

Nós nos mudamos quando eu tinha 15 anos. Eu tive aquela sensação assim que paramos o carro na entrada da casa para ver ela antes de comprar. Eu não queria entrar, mas a minha mãe me obrigou.

Era uma casa de dois andares, mas quando nós entramos não conseguimos achar a escada. O corretor finalmente nos mostrou onde estava, atrás de uma porta, mas nós só vimos o segundo andar da casa depois que a compramos.

A porta da escada tinha sido fechada com cadeado. Não um, mas dois cadeados. Ninguém tinha a chave e tivemos que esperar um tempo até que alguém conseguisse serrar os cadeados.

A casa tem três forros grandes e espaçosos separados. A gente usa eles como depósito. Um fica na parte de trás da casa, um que a entrada fica dentro do closet que era da minha irmã (que na verdade é quase um quartinho com prateleiras), no andar de cima, e outro que a entrada fica no meu closet (que também é bem grandinho como o outro, um quartinho com prateleiras), que também fica no andar de cima.

Eu posso entrar no forro da parte de trás da casa sem problema nenhum. O forro no quarto que era da minha irmã eu só fico o suficiente, para guardar algo lá em cima, e depois fecho ele correndo. Mas o forro que tem no meu quarto, o máximo que eu consigo fazer é colocar a minha cabeça lá para dar uma olhada. Eu não consigo fazer mais que isso. Uma vez eu tentei entrar lá, mas assim que eu firmei a mão na borda da entrada, eu comecei a ficar tonta, e tive que descer da escada para não cair e me machucar. O meu pai é o único que chegou a entrar naquele forro. Foi a única vez, em cinco anos que moramos aqui, que alguém chegou a entrar lá dentro. Depois disso, ele nunca mais foi aberto.

O que me incomoda no segundo andar da casa é que eu sinto como se tivesse alguém me observando, tendo gente lá em cima ou não. Eu não sou a única a sentir isso. Uma vez uma das minhas melhores amigas passou a noite lá comigo. Eu disse uma vez porque ela só ficou uma vez. Ela reclamou que não conseguia dormir porque estava sentindo algo meio "estranho" que deixou ela um pouco assustada. Ela falou que era uma boneca de porcelana que eu tinha em uma prateleira. Ela falou que parecia que a boneca a estava observando. Eu guardei a boneca, mas ela ainda não conseguia dormir. Nós acabamos indo dormir no chão da sala no andar de baixo. Ela nunca mais foi dormir em casa. Para falar a verdade, ela nunca mais subiu para o segundo andar da casa depois disso.

As coisas realmente estranhas só começaram a acontecer depois de um ano que a gente já estava morando lá. É como se o que quer que fosse que está na casa estivesse esperando o momento certo para se "apresentar". Quando as coisas começaram a acontecer, aconteceram depressa.

A porta do meu closet tinha uma tranca. Eu sempre deixava ela trancada, eu raramente abria aquela porta. Abrir aquela porta me deixava muito assustada, e eu não usava muito os meus vestidos mesmo. Eu voltava da escola e achava a porta aberta. Eu acordava de manhã e a porta estava aberta, ou destrancada, como se tivesse algo querendo me provocar, querendo me avisar da sua presença, mas sem se mostrar para mim.

No começo eu achava que era a minha irmã mais nova, que adora pegar as minhas roupas. Ela sempre negou e com o tempo eu comecei a perceber que as vezes a porta se abria quando ela não estava em casa.

As luzes do meu quarto se apagavam sozinhas, como se tivesse algo que soubesse que eu odiava subir a escada no escuro. Nós sentíamos cheiro de gás de cozinha ou se algo pegando fogo pela casa, mas nunca encontramos nada, e chamamos várias vezes profissionais para ver se tinha algum vazamento de gás e nunca acharam nada de errado com as instalações de gás.

Uma das coisas mais assombrosas era a porta da escada. Toda a volta da maçaneta e da fechadura do lado de dentro estava arranhada, marcada e até um pouco rachada, como se tivesse alguma coisa que foi trancada e estivesse querendo sair. Eu só notei isso quando a minha irmã mais nova "acidentalmente" me trancou lá em cima e saiu de casa. Eu tive que sair pela janela e descer pelo cabo da antena que passava por fora da casa para conseguir sair. As marcas que eu fiz na porta tentando abrir ela ficaram bem em cima das outras que já estavam lá quando nos mudamos para a casa, e eram bem parecidas.

Aquela porta também abre e fecha sozinha. O meu pai sempre fala que é a pressão do ar e a temperatura que faz ela fazer aquilo. Parece uma explicação razoável, exceto que ela faz isso todas as noites, não importa a temperatura ou a condição do tempo.

Eu sai de casa por uns dois anos e voltei a uns quatro meses atrás, e nesse tempo que eu fiquei fora aquela porta não se mexeu sozinha, não importa o clima que tenha feito. Ela só se mexia quando alguém empurrava ela.

As vezes eu ficava sozinha em casa e ouvia essas horríveis batidas. Elas faziam a casa toda tremer, ao ponto de as vezes cair umas lascas de tinta do teto, e coisas caírem de prateleiras. Elas sempre vinham lá de cima. Era como se uma parede tivesse caído ou um quarto inteiro tivesse desabado. Os vizinhos nunca ouviam ou sentiam nada fora do comum.

Eu já estava começando a achar que eu era louca. Nada disso parecia estar afetando mais ninguém, somente eu. Então finalmente um dia que o meu pai estava em casa aconteceu uma dessas batidas, e finalmente ele concordou que podia ter algo de errado com a casa. Lembrando agora, o meu pai praticamente NUNCA subia para o segundo andar. Eu não sei se ele é preguiçoso ou se ir lá em cima deixava ele incomodado também.

Eu comecei a inventar motivos para não ter de dormir lá em cima. No começo foi fácil, mas depois de um tempo a minha mãe começou a brigar comigo quando eu não ia dormir no meu quarto. Depois que ela começou a brigar, eu subia, esperava até ela ir dormir e então descia escondida, dormia no andar de baixo até de manhã, acordava e ia para o meu quarto antes dela acordar. Ela descobriu o meu plano secreto depois de um tempo, e eu finalmente decidi abrir o jogo e contei tudo para ela. Ela me mandou para uma psicóloga.

A psicóloga falou que eu tinha uma imaginação ativa. Uma imaginação ativa não explica o terror absoluto que eu sentia só de pensar em ficar sozinha no meu quarto.

Depois disso, as coisas pioraram muito. A essa altura eu já tinha dezoito anos e os meus pais tinham se divorciado. No dia que eu fiz dezoito, eu me neguei a ir ver a psicóloga de novo. Ela era legal, mas não estava me ajudando.

A gota final veio um pouco depois. Eu tinha colocado algumas luzes de natal no meu quarto para tentar manter alguma iluminação lá em cima. Não era só o meu medo, é que a escada era escura e perigosa. Eu me machuquei nela várias vezes subindo e descendo ela no escuro. Mas não funcionou. Aquelas lâmpadas misteriosamente de desplugavam da tomada geralmente. Numa noite enquanto eu estava deitada na minha cama, as luzes se apagaram. Ainda entrava um pouco de luz da rua, mas dava para ver muita pouca coisa. Eu fiquei lá paralisada esperando que algo fosse acontecer. Eu estava com muito medo de me mexer. Eu tenho uma linda indiazinha de porcelana. Eu estava olhando ela, quando a cabeça dela começou a virar na minha direção. Eu pulei da cama e sai correndo para o andar de baixo, chorando de pavor. Depois disso eu guardei todas as minhas bonecas em uma caixa e coloquei ela no forro da parte de trás da casa.

Eu comecei a acordar com a minha cama chacoalhando de leve. Uma vez alguma coisa agarrou o meu ombro. Então, numa noite eu estava subindo a escada, com as luzes apagadas como de costume, quando algo aterrorizador aconteceu.

Tem uma janela no topo da escada. Enquanto eu subia eu notei uma sombra na forma de uma pessoa na frente da janela, bloqueando o caminho para o interruptor de luz. Na hora não dei muita bola. Eu já tinha cruzado com a minha irmã muitas vezes na escada. Eu falei "da licença" e passei por ela. Eu me sentei na cama e então eu me toquei, EU ERA A ÚNICA QUE ESTAVA EM CASA!!! Todos os outros tinham ido visitar os meus tios. Eu olhei para lá e a sombra ainda estava lá. A sombra era tão negra que parecia ser um buraco. Só que agora parecia que ela estava virada para mim.

A primeira coisa que eu pensei não foi "fantasma", estava mais para "assassino do machado"! Eu me virei e acendi o abajur, quando eu olhei para lá de novo, tinha sumido. Então eu senti o cheiro de gás. Eu corri pela escada abaixo em um pânico cego, quase caindo pelos degraus. Assim que eu tirei o pé da escada, um grande BAM ecoou (é ecoou, como se fosse em um estádio) pela casa e a porta bateu sozinha atrás de mim assim que eu passei por ela. Eu dormi no meu carro aquela noite.

Uma semana depois, eu me mudei para a casa do meu pai. Eu nem me importei de não pegar todas as minhas coisas. Eu não queria elas, não o suficiente para subir a escada e ir lá em cima.

Um ano depois, o meu pai me trocou por uma vadia alcoólatra de 23 anos; então eu me mudei para a casa dos meus avós. A quatro meses atrás eu comecei a sentir que eu estava atrapalhando um pouco a vida dos meus avós, então eu acabei voltando para a minha antiga casa. Ela é do meu pai agora (a minha mãe acabou perdendo ela no divórcio). Eu tenho todo o segundo andar só para mim, como se fosse o meu próprio apartamento.

Coisas estranhas ainda acontecem pela casa, mas não como antes. Eu acho que o que tem aqui tem medo de mim agora. Os meus dias de fugir pela escada abaixo chorando como uma coitadinha, se acabaram. Sempre que a "coisa" resolve aparecer, eu a enfrento de frente. Todas as vezes, ela recua.

Uma nota final, a minha mãe era a única pessoa da família que não admitia que tinha algo de estranho na casa. Até a minha irmã do meio, que não reconheceria um "fantasma" mesmo se tivesse um dançando na ponta do nariz dela, não sobe as escadas sozinha se as luzes estão apagadas. Mas a minha mãe, que achou que eu fosse louca (literalmente), finalmente cedeu.

Uma noite, logo após eu ter me mudado, ela acordou para ver a sombra que eu sempre via, parada em cima da cama dela. Estava falando com ela e deu um pedaço de papel azul com uma data escrita. Ela não se lembra da data ou o que a sombra falou, e ela jura que foi um sonho. Mas deve ter sido um sonho bem realista, porque ela acordou tentando lembrar onde tinha colocado o pedaço de papel.

Imaginação? Fantasmas? Demônios? O Capeta? Talvez algo criado com a energia da mente de uma garota adolescente perturbada? Você decide.


Paola - MG