Equipamentos assombrados

Navegando pelo site me deparei com a comunidade que trata dos aparelhos mal-assombrados, me lembrei de um fato que por não ter grande significado e por ter ocorrido em um período e local que por várias razões eu prefiro esquecer, talvez por isso eu não dei muita importância pelo evento, e só me lembrei agora que eu estava explorando o site.

O relato é o seguinte: Há alguns anos eu trabalhei em uma escola pública cujo prédio era antigo e entre outras coisas, ele havia servido de oficina metalúrgica para a indústria ferroviária. Como ocorre com uma grande parcela dos colégios públicos neste país, as instalações não primavam pela excelência e a escola estava repleta de mofo, cupins nas janelas, infestações de barata, de pombos, etc., enfim um caos e eu que era secretária da escola, cabiam os pedidos de ofícios para o poder público para suprir as necessidades, ligar para profissionais, enfim, não era porque eu era funcionária pública que vivia na mamata; tem gente que realmente trabalha e leva a coisa a sério.

Certa vez, minha colega, a Mércia (nome fictício), veio branca me falar que em um dos banheiros havia ocorrido um fato que a apavorara. A torneira de um dos antigos chuveiros havia aberto e fechado na presença dela, o que quase a matara de susto. Bem, como eu falei, os galpões da escola eram velhos e os chuveiros eram resquícios das antigas funções do prédio, embora eventualmente fossem utilizados pelos alunos e funcionários quando havia alguma festa ou atividade que tínhamos que ficar na escola até mais tarde. Mas como isso era raro, somente alguns dos chuveiros quentes eram utilizados, este em questão estava inutilizado. Pois além de estar endurecido pela falta de uso, a torneira estava enferrujada e emperrada, o que constatei mais tarde.

Voltando ao susto da Mércia, fui com ela até o banheiro argumentando que por se tratar da precariedade das instalações, o encanamento era velho demais para aguentar a pressão da água que descia com força demais para quando eles foram instalados. Fui até o Box e notei que o chão estava molhado e o chuveiro úmido, mas não gotejando. Tentei abrir ou fechar a torneira em vão, pois ela estava dura e não moveu para nenhum dos lados. Lembro-me de ter puxado e empurrado, mas nada de se mover. Sorrimos amarelo uma para outra e eu, muito por presunçosa, dei por satisfeita e fomos saindo. Aí que a coisa ficou tosca: estávamos saindo quando tomei aquele banho gelado e vi que (se vocês não acreditarem, para mim tudo bem, eu também não acreditaria) a torneira estava totalmente aberta! Por segundos eu não movi sequer o raio da torneira para nenhum lado.

Bom, a coitada da Mércia deu um pinote e saiu desembestada pelos corredores assustando os professores e salas de aula, me deixando sozinha no recinto. Como definitivamente eu não tenho medo de fantasma (eu tenho medo de perereca, de morcego, de grilo, de gafanhoto, mariposa e até de revoada de pombo, enfim das coisas mais estúpidas e inofensivas) e com a maior cara de pastel de feira frio, mandei o tal fantasma às favas e falei para ele que se tivesse algum poder, que fosse fazer algo de útil e não atrapalhasse quem estava trabalhando. Fechei a torneira sem esforço e voltei pisando duro de volta à secretaria, enquanto os alunos e professores me olhavam sem entender o motivo de eu estar encharcada daquela maneira. Um grande mico que paguei naquele dia.

Mais tarde, quando meu chefe chegou e já avisado pelas línguas compridas do povinho que trabalhava lá, ele veio me perguntar do sucedido e eu relatei tudo. O que para meu espanto, o diretor sorriu e ficou aliviado porque ele me disse que outra vez, quando ele estava trabalhando até mais tarde, não havia mais alunos e ele teve que se dirigir até este banheiro e fechar a tal torneira que estava totalmente aberta sem mais e nem menos. E que realmente para conseguir abri-la era necessário que dessem algumas porretadas de tão emperrada que estava, e que ele achou que tivesse entrado alguém, ou que estivesse ficado louco.

Havia outros relatos daquele lugar e eu, sem dúvida, afirmo que foi o pior lugar que eu trabalhei na minha vida. Eu não sei por qual motivo eu nunca gostei do meu trabalho, ou do local, ou da minha função; eu realmente odiava aquilo e até hoje não consegui focar qual era o real motivo do meu rancor.

Houve também um curioso episódio, mas como estava relacionado com um equipamento sensível não posso afirmar se era algo pertencente ao inexplicável. Na secretaria havia uma impressora que deu de imprimir sozinha. O pior é que não abria nenhuma janela do Windows mostrando o procedimento ou aviso. Ela simplesmente ligava e desatava a imprimir documentos antigos, pois ela imprimia coisas de professores que já não trabalhavam mais lá e que há tempos haviam sido excluídos. Era um tal de imprimir antigas listas de presenças, ofícios, apostilas, enfim, eu cheguei a ficar com o professor de informática procurando onde estavam estes arquivos, mas nunca o encontramos. Parecia que ela imprimia direto da placa-mãe. Chamamos um técnico que examinou a impressora e a CPU e ele não encontrou nada de anormal. Acabei por retirar os papeis da bandeja e às vezes quando alguém se esquecia de retirar as sobras, ela começava com as impressões; parecia que ela sabia que tinha papel dando sopa, porque ela nunca fez nenhum barulho de imprimir, nem abria a janela avisando que não tinha papel. Na verdade, isto nunca aconteceu, mesmo que acabasse o papel, e não terminasse de concluir o documento, nunca abriu esta janela.

Este fato também me lembrou de um evento que ocorreu com uma pessoa da minha família. Esta pessoa trabalha em cartório e às vezes ela sente que levantam seu cabelo e lhe fazem cafuné. Ela chegou a ver uma mecha do seu cabelo sendo levantada no espelho do banheiro. Também me contou que um dos seus colegas certa manhã abriu o cartório e estava ajeitando as coisas para a chegada de seus colegas, escutou o tilintar de uma velha máquina de escrever e viu o carro ser levado até o fim. Para quem conhece as velhas Remington, sabe o quanto é trabalhoso e pesado soltar a trava, puxá-la e empurrá-la até o fim. Assustado, o funcionário se trancou no banheiro deixando a porta do estabelecimento aberta e só saiu de lá quando seus colegas chegaram.

Bem, pelo que sei, locais como estes são infestados de impressões e de energias das várias pessoas que por lá se aventuram, e eu não duvido que tais coisas aconteçam.


Jaqueline Cristina