Criança?

Na mesma casa onde ocorreu meu relato anterior, chamado ""O Livro Negro", costumavam acontecer várias coisas sem explicação, e lembro deste, como um dos mais desagradáveis, pois o mesmo pôs a prova, e tem posto até hoje, muitas das crenças que acumulei até aqui. Pois bem, vamos ao relato:

Tive em um dos meus primeiros namoros, uma cunhada que seguia uma religião dita cristã a qual não me recordo o nome, mas pelo que sei, só existia em nossa cidade na época, pois havia sido recém criada. Pelo que me recordo, esta seita cristã era uma salada de dogmas e ensinamentos. Eu, como não via o cristianismo com bons olhos na época e seguia a mesma linha de pensamento ateu de algumas poucas pessoas de minha família que eu admirava, nunca me interessei em ir muito a fundo no assunto, mas sei que eles criam em espíritos desencarnados e consideravam a menina em questão como uma "sensitiva", e eu mesmo a considerava assim, apesar de minhas descrenças, pois mais de uma vez ela parecia "adivinhar" ou ler os sentimentos ou pensamentos nossos e de nossos amigos, falava sobre coisas do nosso passado que teoricamente poucos ou ninguém sabia. À vezes ficávamos bastante nervosos com as coisas que ela dizia ou sonhava e depois nos contava.

Essa menina costumava dizer que uma criança passeava pela casa onde elas moravam e que mais de uma vez ela havia visto essa criança. Minha namorada, que detestava falar no assunto, também confirmava a história e eu me limitava a achar graça, pensando que queriam me assustar com uma historinha qualquer. A casa em questão era bem velha e um tanto feia. Não conhecíamos a história da casa, mas nos disseram que era muito antiga, e a julgar pela aparência da habitação, estavam certos os que diziam isso.

Em uma tarde de chuva torrencial, ficamos somente eu e minha ex namorada cuidando da casa citada, já que meu ex sogro faria a segurança de uma festa e minha sogra, que trabalhava em mercado, ficava até as 19:30. Como costuma acontecer no inverno aqui no sul, pouco depois das 18:00 horas a escuridão já era grande, aumentada pelas nuvens do temporal, que haviam deixado o dia todo com uma aparência de noite. Como a imagem da TV estava péssima por causa da chuva resolvemos ficar "lendo" no quarto, jogados na cama, somente com a vidraça abaixada, por onde às vezes os flashes dos relâmpagos entravam e podíamos ver a chuva forte caindo sem parar.

Tínhamos um abajur fraco ligado ao nosso lado, e os cantos do quarto estavam em sombras, já que "ler" era só uma desculpa esfarrapada caso alguém chegasse de repente, pois o livro mesmo estava jogado nos pés da cama. Quando ouvimos o barulho de alguém abrindo o portãozinho de ferro lá na rua, olhei rápido em direção ao livro e levei a mão a ele, para preparar o álibi, e tomei um susto enorme: Pude ver em um dos cantos do quarto, com clareza, algo como uma pessoa, de estatura baixa, dando um passo para trás e escondendo-se num dos cantos escuros do quarto, no vão entre a parede e o roupeiro. Dei um pulo e com um tapa acendi a luz que ao contrário do abajur clareou o quarto todo, inclusive aquele canto, onde não havia pessoa alguma.

Tive um mal estar enorme naquela noite, acho que pelo susto, mas não comentei nada para ninguém, e minha ex também não me fez mais muitas perguntas sobre o meu susto quando expliquei o que havia visto. Minha cunhada costumava dizer que às vezes acordava com aquela criança a observando. Mais tarde, quando contei esta história para algumas pessoas, as teorias sobre o que vi foram como sempre muitas, mas todas previsíveis: Fantasmas, demônios em forma de crianças, duendes e peças pregadas pela mente. Ainda não escolhi qual delas aceitar como explicação. Só sei que para aqueles que nunca presenciaram algo parecido é muito fácil pré-julgar e dizer que é coisa de nossa cabeça, e embora não descarte a possibilidade de ter sido enganado por meus olhos, recordo do susto com enorme clareza.


Pøisønøus