Coisas de nós, caipiras

Bem, sou nascida e criada no interior de São Paulo, portanto, sou uma capial da gema! Aqui, mais precisamente nas cidades da região do Vale do Paraíba do Sul, é muito comum haver diversas histórias de assombrações. Os famosos "causos" que estão presentes na cultura desta região altamente religiosa. Porém, é preciso discernimento para filtrar os relatos e separar dentre eles o que são lendas, fatos que a priori parecem inexplicáveis mas têm fundamento racional, e o que é realmente fantástico (este é a nata), principalmente quando são relatados por pessoas sensatas e idôneas. O que é o caso que relatarei agora.

Há quinze anos conheci uma família, cujos filhos são meus amigos do coração. Dona Valéria e Seu Acácio (nomes fictícios) foram nossos vizinhos e seus cinco filhos: Thiago (nome fictício também) se tornaram muito amigos meu e de meu irmão. Meu irmão e Thiago, o filho mais velho, protagonizaram um fato que é muito estranho: como os dois são músicos, certa tarde foram ensaiar na casa de outro menino. Quando anoiteceu, eles voltaram para casa e para isso, teriam que passar por um campinho de futebol. Neste campo, naturalmente haviam algumas árvores. Meu irmão contou que enquanto eles vinham, começaram a escutar estalinhos e sentir que alguém estivesse tacando coisas como algumas sementes de dendê neles. Injuriados, eles procuraram no campo (segundo contam, estava anoitecendo mas não estava totalmente escuro, além de que o local é bem iluminado apesar de ser um campo) o moleque que estava zoando com eles. Até que eles se arrepiaram ao verem que em uma das árvores havia um ser peludo semelhante a um gorila, que ficava jogando estas coisinhas neles. Argumentei com eles que este é um comportamento natural dos símios (embora eu nunca tinha ouvido falar que alguém possuísse um macaco daquele porte nas redondezas), que era alguém tirando onda deles... Mas, meu irmão falou: que eles passaram correndo do outro lado da rua, o tal macaco não fazia nenhum barulho, não gritava ou grunhia, não pulou para atacá-los. Quando eles tentaram olhar para o bicho, ele havia sumido.

Thiago e meu irmão são algumas das pessoas mais medrosas que eu conheço, e eles assumem isso! Imaginem só o que eles passaram!

A dona Valéria mãe do Thiago, também conta um causo incrível: quando ela e as irmãs eram adolescentes, era comum os jovens ficarem até tarde conversando e brincado nas casas uns dos outros (isto é comum até hoje) e certa noite, elas estavam sentadas na rua conversando, quando de repente, (nas palavras dela) passou uma cena do filme Lawrence da Arábia cinema na frente dela: um bando de tuaregues com seus cavalos, suas roupas e turbantes passou correndo pela ruas chegando até alguns cavalos a subir nas calçadas; o que fez com que as meninas saíssem correndo e gritando para dentro de casa com medo dos cavalos.

Mas segundo ela, não havia nenhuma pegada, rastro ou estrume dos cavalos. E o pior, somente ninguém ouviu ou sentiu nada a respeito do bando de cavalos galopando pelas pequenas ruas da cidade. Somente elas foram testemunhas dos fatos.

Voltando ao assunto do macaco, um parente meu também já viu algo parecido, pulando nas árvores que haviam à frente de nossa casa. Mas a testemunha dizia que ele pulava o chão, nos muros, voltava para as árvores. Quando ele ficou parado um tempo para tentar identificar melhor, e tentou se aproximar, o ser sumiu.

São coisas estranhas. Mas como não testemunhei, não posso afirmar do que se trata estes fatos. Mas são muitos estranhos.


Jaqueline Cristina