Arquivo São Jorge

No rol das minhas piores besteiras, eu guardei na memória esta com muito carinho. Não, eu não me orgulho das asneiras, nem sou masoquista (prefiro ser sádica mesmo he he he), mas este episódio mesmo que não tenha algo de cunho sobrenatural (eu acho, mas tenho minhas grandes dúvidas), me fez rir demais. Mas não foi riso de felicidade (até foi), mas foi aquele riso que a gente dá nas horas que também chora junto.

Há alguns meses, tive a "felicidade" de queimar minha HD externa e ferrei meu PC junto. Eu não vou explicar como consegui esta proeza digna de um Bill Gates (dos pobres) uma porque o texto ficará extenso e porque logicamente eu já passei atestado de burra para vocês tantas vezes que nem vale a pena descrever.

HD queimada, PC pifado, eu fui chorar as pitangas para meu marido é claro, afinal é ele o entendido em informática da casa. Aí o que era minha salvação, acabou sendo meu completo desgosto, quando ele me deu àquele olhar de: "p$%& você me Piiiii!". Assustada, pois ele não fala palavrão a não ser em jogo que o Vasco da Gama perde, eu perguntei a ele como tinha ferrado com ele, ou se por acaso eu estraguei de vez o computador ou a HD.

Ele me falou: "você queimou a HD errada. Você pegou a MINHA HD, a que eu guardo os arquivos confidenciais".

Gente, eu não sei como não morri! Ele coitado, (se existir um paraíso ele vai para lá com certeza, afinal ele me AMA e está comigo há quase 15 anos por amor mesmo...) já desesperado, branco feito vela, e eu que já deveria estar com a cara de pastel de feira frio, torrado e mastigado e cuspido por um cão sarnento de rua.

Peguei a HD e corri na Lan onde tem um técnico e ele foi direto: "eu não tenho máquina para recuperação de HD. Mas eu tenho um amigo que mora em São Paulo..." putz era sexta-feira, já umas 8 da noite, tinha um compromisso no sábado em uma cidade do lado oposto da capital, e nada. Saí de lá desesperada, mas confiante que encontraria alguém que tivesse na cidade um computador específico que tentasse recuperar pelo menos em parte os arquivos.

Voltei para casa com cara de dono de cadela de pedigree que cruzou com vira-latas (eu já tive esta cara e não foi no sentido figurado) e falei bem amorosa para meu marido: "Amor, ainda não consegui porque está tarde, mas amanhã cedinho eu tenho fé que irei encontrar alguém que irá resolver nosso problema, e eu prometo que vou pagar tudo o que ele cobrar!".

Então ele calmamente (eu não sei como ele tem sangue tão frio) me disse: "o problema não é o valor do trabalho, o problema é que eu pego o avião na segunda e tenho que apresentar os relatórios..."; confesso que não prestei atenção em mais nada.

À noite enfim chegou, e como "mágica" já tinha dado lá pelas duas da manhã e nada de ninguém conseguir dormir... Até que eu resolvi usar minha arma feminina de resolução de grandes problemas e agi categoricamente: desatei a chorar!

Chorei de soluçar, igual à criança que deixa cair o pirulito! Fiz o maior berreiro, típico de vilã de novela mexicana, surtei legal!

E ele de certa forma constrangido, se levantou acendeu a luz e me abraçou, pobre coitado! Até água ele me trouxe na cama.

Levantamos cedo, e fomos procurar um técnico que nos ajudasse. Até que encontramos um que verificou e falou: perder os arquivos vocês não perderam, mas não consigo abrir porque eles estão ocultos, eu não tenho computador apropriado para este serviço, só em São Paulo mesmo... (e nos deu outro cartão de empresa de informática da capital).

Deixamos o assunto de lado (faz de conta) e rumamos para nossa cidade cumprir com nosso compromisso. No domingo de manhã, ele vestiu uma camiseta de São Jorge e fomos para um churrasco na casa de amigos. E não preciso falar meus amigos, do silêncio sepulcral que havia se instalado entre nós. Chegando lá um dos nossos amigos (nessas horas nem é bom mencionar o estado lastimável do cara, afinal era um dia de churrasco) para "ajudar" nosso ânimo: "Nossa eu não sabia que você é Corintiano, rapaz!"

Eu nem sei como um marido não saiu na porrada naquela hora, com os nervos à flor da pele; acho que se ele tivesse que bater em alguém seria em mim, mas ele não é um ignorante (olha a lei Maria da Penha!) acabou rindo para meu alívio.

Então nosso amigo pegou duas correntinhas com medalha de São Jorge que disse ele que foram bentas em Aparecida do Norte, na ocasião da visita do Bento XVI, e que como todo bom corintiano sofredor, mas de coração grande, estava distribuindo medalhas do santo aos corintianos.

Pelo menos devoto do santo nós somos, e ele por ser católico praticante, é beeeem mais devoto que eu. E como sempre, beijo a medalha e colocou no pescoço. Mas mesmo assim acho que nunca participamos de um churrasco sem a mínima vontade de comer e nunca bebemos cerveja tão amarga. Nada descia goela abaixo.

Voltamos para casa à noite e eu o ajudei a arrumar as malas e ele foi conferir no lap top os últimos preparativos. E só para desencardo de consciência, ele deu uma conferida na HD. Aí a coisa ficou positivamente estranha: todos os arquivos estavam lá intactos! Abriaram todos sem nenhum problema! Eu corri e liguei o outro PC e este sim estava zicado, e me deu um trabalhão; mas os arquivos principais estavam salvos.

Então eu pergunto: não seria incompetência dos técnicos? De todos os consultados? Será que o último visitado consertou o problema e não percebeu? Ou aconteceu algo milagroso?
Ah, já estava me esquecendo, o nome dos arquivos: Pasta São Jorge!


Jaqueline Cristina