A Noite dos Encapuzados

Antes de começar a minha história, eu gostaria de dizer que gostei muito da iniciativa de reativar a Casa Fantasma. Sempre gostei muito deste site e sempre quis enviar a minha história, mas quando eu o descobri, ele já não era mais atualizado. Fiquei muito feliz quando soube na comunidade do Orkut que estavam reativando. Espero que tenham paciência com o tamanho da história, sou muito detalhista.

Também preciso falar um pouco sobre mim antes. Meu nome é Alexander tenho 21 anos. Moro em Recife, Pernambuco. O que vou relatar aconteceu há cinco anos e foi uma das poucas coisas realmente assustadoras que já aconteceram comigo. Desde pequeno, eu sempre gostei de contos de terror e mistério (ou histórias de trancoso, como diz a minha avó), mesmo tendo muito medo disso. Lembro que quando eu era criança, costumava juntar os vizinhos à noite, inclusive adultos, para ficarmos contando histórias. À vezes eu chorava de medo, mas não conseguia resistir à tentação de continuar ouvindo. Bem, hoje eu não tenho mais tanto medo, mas continuo adorando as histórias de terror da mesma forma, se não mais. E não sou o único: meu irmão mais velho, Iago e meus primos Eros e Paulo partilham do mesmo gosto.

Minha bisavó tinha um grande sítio na cidade de Vitória de Santo Antão, onde morava com meu avô, e boa parte da minha família também mora na cidade (e outra boa parte mora aqui em Recife mesmo, na mesma rua). Hoje, meus dois bisavós são falecidos, então o terreno foi dividido entre seus filhos e minha avó ficou com a casa principal, onde eles moravam. Desde muitos anos, algumas das minhas tias já tinham feito casas para elas no terreno e quando aconteceu esta história já haviam duas delas. A casa principal do sítio é bem grande com primeiro andar, como poucas por aqui e o terreno também se estende por uma boa região de mata. Segundo minha mãe, o sítio da minha bisavó é famoso pelas pessoas que moram próximo por ser mal-assombrado. Minha mãe morou por vários anos lá e conta algumas histórias de coisas que viu e ouviu, bem como minhas tias, mas nada muito sério; talvez eu conte algumas em outro momento.

Mas enfim, a história começa quando minha família resolveu passar as férias no sítio. Seriam três semanas junto com a família. Todos estavam empolgados, principalmente a minha avó, pois minha família é bem unida (com algumas exceções), mesmo alguns morando longe. Mas, além de rever alguns familiares, eu, Iago, Eros e Paulo estávamos ansiosos pelas histórias de terror à noite que com certeza seriam suscitadas.

Enfim, o dia chegou e nós fomos para lá. Iago levou a namorada dele, Jéssica. Teve muita comida e bebedeira (eu nem lembro como fui para na cama na primeira noite, de tão bêbado!). Contamos algumas histórias e ouvimos barulhos à noite (nada de mais, acho) e ouvimos algumas lendas locais. Mas vou me centrar em uma coisa que aconteceu já na terceira semana em que estávamos lá.

Certo dia, vários dos meus parentes resolveram visitar alguns antigos amigos e alguns decidiram não ir: eu era um deles, pois não conhecia os amigos de infância dos meus pais. Enfim, na casa que eu estava só ficaram eu, Eros e Paulo, mais dois primos (Dédalo e Ivan) e um primo em segundo grau, Antônio, que considero como tio. Tio Antônio também gosta muito de histórias, mas é um pouco mais medroso que nós e relata já ter visto algumas coisas assustadoras. Chegaram 16 horas e os outros ainda não tinham voltado. Eu, Dédalo, Eros e Paulo fomos tomar banho (o chuveiro ainda era do lado de fora na época). Enquanto tomávamos o banho, o tempo fechou de repente. Escureceu muito rápido e começou a soprar um vento frio muito forte. Lá costumava esfriar muito quando ia anoitecendo, mas nunca tinha ficado daquele jeito tão de repente. Nós terminamos o banho bem rápido para entrar logo. Lá dentro, Tio Antônio falou de forma meio sinistra:

- Que estranho, há muito tempo que não esfria assim tão rápido. Da última vez...

- Da última vez o quê? - eu perguntei.

- Nada, deixa pra lá. É só besteira.

- Da última vez O QUÊ??? - insisti.

- Parece com a noite dos encapuzados, né? - disse Dédalo sério.

Tio Antônio continuou insistindo que era só besteira, mas Dédalo contou que há três anos tinha acontecido uma coisa estranha no sítio. Era um dia normal de verão e meu avô tinha saído pra mata pra caçar (era o hobby dele), só que ele voltou muito cedo e assustado. Disse apenas que a mata estava muito "estranha" e que não estava bom caçar naquele dia. Minha avó achou que ele estava estranho e perguntou se ele tinha visto alguma coisa, mas ele disse apenas que a mata não estava boa pra caçar. Meu avô era um pouco cético quando contavam histórias, mas ele também tinha suas superstições, principalmente em relação à mata, então minha avó resolveu apenas acreditar. Só que quando chegou o fim da tarde, o dia, que estava bastante ensolarado, escureceu de repente e começou a ficar muito frio e cair uma chuva fraca, mas com muito vento. O que era estranho, pois no verão nunca fazia frio, mesmo quando chovia muito. Todos acharam que o tempo estava estranho, mas até aí nada de mais. À noite, meu avô ouviu barulhos no estábulo e os cavalos muito agitados, então foi olhar lá fora. Quando chegou lá fora, viu que os cavalos estavam realmente desesperados com algo. Enquanto tentava acalmá-los, ele os viu. Disse que vinham saindo da mata cerca de dez figuras encapuzadas. Segundo ele, pareciam com a imagem que fazemos do anjo da morte, com aquele capuz e a túnica pretos (mas sem foice). Não dava para ver seus pés, mãos ou rosto e nem meu avô estava interessado em ver. Ele simplesmente voltou correndo para dentro da casa, trancou tudo e ficou de guarda com a espingarda no primeiro andar. Foi uma noite infernal. Eles ouviam os cavalos, bois, bodes e porcos desesperados e ouvia sussurros o tempo todo. Naquela noite ele perdeu alguns cavalos e bodes que fugiram, mas no dia seguinte não havia vestígio de que alguém tivesse passado por ali. Depois, nós confirmamos toda a história com meu avô e ele disse que verificou no dia seguinte e encontrou apenas suas pegadas indo e voltando do estábulo e mais nada em todo o sítio.

Naquela noite, Tio Antônio estava na casa de uma das minhas tias, que era lá no sítio mesmo. O quarto dele tem uma parede virada para a mata e ele contou que acordou à noite ouvindo sussurros. Ele ficou com muito medo, mas olhou por um buraco da janela para fora. Ele disse que estava muito escuro, mas ele viu várias silhuetas de pessoas saindo da mata. Não passou muitos segundos olhando.

Então, estávamos nós seis dentro da casa. Eu, Paulo e Eros estávamos ao mesmo tempo empolgados com a história e assustados pela forma como Tio Antônio contou. A noite foi avançando (e foi ficando mais frio) e o celular tocou (meu irmão tinha deixado o celular dele em casa para podermos nos comunicar, pois só os celulares TIM tinham sinal no sítio). Era minha mãe para avisar que eles não iriam voltar naquela noite, apenas no dia seguinte por causa da chuva. Disse também que meu avô insistiu que eles trancassem todas as portas e não saíssem de casa. Eu perguntei por que, mas ele disse que a mata era muito perigosa à noite. Todos nós estávamos um pouco assustados, mas não íamos admitir isso. Ficamos tentando assistir TV, mas a imagem estava péssima. Ivan teve a brilhante idéia de brincarmos do jogo do compasso (é igual ao jogo do copo), mas não tivemos nada muito interessante. Então começamos a conversar sobre coisas engraçadas que tínhamos feito. A conversa estava divertida e acabou indo para o de sempre: contos de terror.

Não demorou muito tempo e nós ouvimos uma batida forte lá embaixo. Todos se assustaram. Ficamos parados por algum tempo até que ouvimos mais duas batidas seguidas.

- Parece alguém batendo na porta. - falei.

- Vai atender.

- Por que eu? Eu sou o mais novo.

- Tá com medo, é?

Eu não ia admitir que estava assustado, então desci as escadas sozinho. Fui até a sala e ouvi duas batidas de novo na porta, mas eram muito fortes, eu vi a porta estremecer.

- Quem é? - minha voz quase não saiu, então eu repeti: - QUEM É?

Não houve resposta, só silêncio por alguns segundos. Então eu tive a impressão de ouvir um sussurro. Era alto, mas não dava para entender o que dizia. Eu subi correndo.

- Ninguém respondeu. - falei.

Ouvimos a batida de novo.

- Vamo todo mundo! - falei.

Todos hesitaram, mas enfim descemos.

- Quem é? - gritou Eros.

Nesse momento começamos a ouvir nitidamente os sussurros. Eles começaram baixinho, mas foram ficando bem altos e não dava para entender nada. Dava a impressão de serem umas três vozes, mas não dava para identificar se eram de homens ou mulheres. Diante disso nós recuamos um pouco, então ouvimos novamente três batidas, com cerca de um segundo de diferença. Na primeira, nós seis corremos para lá para cima de volta. Passamos alguns segundos para que seis passassem ao mesmo tempo na porta da sala e do quarto. Trancamos a porta do quarto e ficamos por um tempo lá dentro meio desorientados.

- O que a gente vai fazer?

- Nada! - disse Tio Antônio - Acho melhor a gente ficar aqui.

Os sussurros foram ficando audíveis lá em cima enquanto a chuva baixava e o frio aumentava. Nós ainda ouvimos algumas batidas na porta e não sabíamos mesmo o que fazer.

- Acho melhor pegarmos a espingarda de vovô. - disse Tio Antônio.

- Será que é alguém tentando entrar na casa?

- Acho melhor pegarmos mesmo, alguém sabe atirar?

- Eu sei. - disse Dédalo - Mas a espingarda está lá embaixo, né?

Nós não estávamos muito empolgados com a idéia, mas descemos. Os sussurros estavam nos deixando muito nervosos, e as batidas ocasionais na porta pioravam a situação. Quando chegamos à segunda sala, ouvimos uma batida muito forte e nos viramos. A porta tinha sido arrombada e nós o vimos parado do lado de fora, diante de onde estava aporta.

Foi a imagem mais assustadora que eu já vi. Estou todo arrepiado só de lembrar. Era muito alto, então não dava para ver a cabeça, mas o que parecia ser o corpo estava coberto com uma espécie de capa preta. Não dava realmente para ver mãos ou pés, pois a túnica era muito grande. Durante os segundos em que não consegui me virar, a figura ficou simplesmente parada na porta. Todos nós corremos para lá para cima de volta, gritando. Trancamos a porta do quarto.

- O QUE ERA AQUILO???? - gritei.

- AI, MEU DEUS!!!

Nós constatamos que os únicos que viram a figura foram eu, Dédalo e Eros, que estávamos mais próximos à porta, os outros correram por causa dos gritos. Nós ficamos desesperados sem saber o que fazer, pois o que quer que fosse aquela coisa, estava dentro de casa agora. Nós seis ficamos encolhidos a noite inteira no canto do quarto enquanto ouvíamos os sussurros muito mais fortes, como se estivessem passando pela frente da porta, mas sem barulho de passos ou coisa parecida. Não houve nenhuma batida na porta, nem sequer um arranhão. Parece que aquelas coisas não estavam interessadas em entrar no quarto.

Era quase quatro horas da madrugada quando os sussurros cessaram. Era cerca de seis da manhã quando eu dormi. A maioria de nós acabou dormindo também, menos Tio Antônio. Só saímos do quarto quando os outros chegaram de manhã e abriram a porta. Meu avô perguntou sobre a porta arrombada e nós contamos tudo o que aconteceu. Ele confirmou a história de Dédalo e disse que também se lembrou daquela noite quando sentiu o frio. Nada havia sumido da casa, nada estava fora do lugar a não ser a porta da frente e o portão do terraço (o cadeado estava aberto, e nós nos lembramos de tê-lo fechado, até porque não teria motivo para colocarmos o cadeado aberto no portão).

Minha avó acha que aquelas coisas não entraram no quarto porque tem um crucifixo pregado na porta de todos os quartos, que ainda estavam fechados pela manhã. Eu não sei o que eram aquelas coisas, mas ainda atormentam minha mente. Ainda penso naquela noite toda vez que vou trancar a porta do apartamento que divido com Eros e Paulo (na qual inclusive pusemos um crucifixo). Não sei o que eram aquelas coisas (só vimos uma, mas ouvimos várias), só sei que eram assustadoras.

Aconteceram outras coisas menos assustadoras naquelas nossas férias e eu soube de outras por lá, mas posso contá-las em outra história.

Obrigado por ler a minha história. Em breve mandarei outras.


Alexander - Recife - PE