A mão no escuro

Só de lembrar desse ocorrido eu sinto calafrios. Não é algo que eu conto pra todo mundo mas eu acho que se encaixa perfeitamente aqui.

A casa em que eu moro já não é tão nova, deve ter quase 50 anos, mas nunca teve nenhum problema fora do normal (e com isso eu quero dizer paranormal). Nunca vi nada de estranho lá. Mas tem um quarto que fica embaixo da casa, quase como se fosse um porão, que só se tem acesso por fora, pelo quintal. A minha mãe usa ele como lavanderia. Esse quarto sempre me deixou incomodado. Eu não gosto de ir nele e sempre evito ir a noite nele. Eu nunca vi nada de estranho nele, mas sempre que eu entro nele eu tenho uma sensação estranha, como se tivesse alguém me olhando, e me olhando com raiva.

Mas apesar disso, nada nunca aconteceu. Eu raramente ia lá, e o resto da família parecia não se incomodar com ele, e a vida seguia o seu rumo. Mas a 4 anos atrás isso mudou. Certa noite eu estava me arrumando para dormir. E como no dia seguinte eu tinha que acordar cedo para uma entrevista para um emprego (o meu primeiro), eu resolvi já deixar tudo pronto à noite para não acontecer imprevistos na manhã seguinte. Então eu comecei a separar a minha roupa e coloquei em uma cadeira do lado da minha cama. Mas eu não estava achando a calça que eu tinha separado mais cedo. Eu perguntei para a minha mãe sobre ela e ela me falou que tinha lavado, secado e passado ela, e que a calça deveria estar na lavanderia. Apesar de não gostar de ir lá e evitar ao máximo chegar perto da lavanderia de noite, nunca tive razão sólida nenhuma para não ir lá. Então eu fui atrás da minha calça. Só que já fazia quase 2 semanas que a lâmpada do quintal tinha queimado, e não tinha nenhuma iluminação perto da lavanderia, que pudesse ser acesa pela casa, só a luz que tinha em cima da máquina de lavar e a própria luz do quartinho que eram acesas por dentro dele. Mas eu fui para lá sem problemas.

Apesar da escuridão me incomodar um pouco eu cheguei até a porta do quartinho. Eu comecei a sentir uma certa apreensão em destrancar e abrir a porta (tinha uma tranca por fora que era fechada com um cadeado), mas como queria dormir logo ignorei aquela sensação e comecei a abrir o cadeado. Então uma angustia começou a tomar conta de mim. Eu não sabia de onde aquilo estava vindo, mas queria acabar logo com isso tudo, só queria pegar a minha calça e voltar para o meu quarto. Eu coloquei o cadeado em cima da maquina de lavar e girei a maçaneta da porta. A porta começou a abrir bem devagar, e rangendo. Eu não conseguia ver nada lá dentro, só via aquele breu na minha frente. A única coisa em que eu pensava fazer era acender a luz logo de uma vez, mas não sei por que eu não queria colocar a minha mão lá dentro. Aos poucos eu fui vencendo o medo, cheguei perto da porta, e sem entrar, coloquei o braço lá dentro procurando o interruptor na parede. Eu não estava achando ele, e aquela sensação era horrível, e o fato de eu não conseguir enxergar nada lá dentro só me deixava completamente arrepiado. Então eu senti um alívio quando senti a capinha que fica em volta do interruptor de luz. Mas de repente, antes de eu conseguir apertar o interruptor de luz, eu senti alguma coisa agarrando o meu braço e puxando ele para longe da parede. Parecia ser uma mão, e estava apertando forte. Eu entrei em desespero, o que era aquilo? E ainda por cima estava ardendo muito!!! Parecia que estava queimando, feito queimadura de sol. Eu me segurei na parede do lado de fora e comecei a gritar, mas o-que-quer-que-fosse-aquilo ainda estava me puxando para dentro da escuridão do quartinho. Eu não ouvia barulho nenhum lá de dentro, mas sentia um ódio vindo do que tinha lá. Eu continuei gritando e no desespero dei um chute na porta. Ela bateu em algo e a minha mão se soltou. Eu cai para trás e comecei a me arrastar para longe da porta.

Então o meu pai e o meu irmão apareceram correndo. Eu mal podia explicar o que tinha acontecido, mas eles conseguiram entender que tinha alguém no quartinho. Eles foram chegando perto e eu gritando para eles saírem de lá, só para fecharem a porta e saírem de lá, mas o meu pai simplesmente colocou a mão lá dentro e acendeu a luz. Para o meu espanto, não tinha nada lá dentro, só um monte de roupas no chão o armário com produtos de limpeza. Não tinha absolutamente lugar nenhum para se esconder lá dentro, e o que quer que fosse que me atacou, não estava mais lá. Para onde tinha ido? O meu irmão revirou até as roupas, mas não tinha nada. Um pouco mais calmo eu consegui explicar para eles o que tinha acontecido e mostrei o meu braço, que agora estava cheio de hematomas onde eu senti a pegada. Ele falaram que podia ter alguém lá dentro e que saiu correndo antes deles chegarem, mas eu estava lá o tempo todo e NADA saiu de dentro do quartinho. Então o meu pai pegou a minha calça e trancou a porta com o cadeado de novo.

O meu braço ficou ardendo o resto da noite e a manhã seguinte quase que inteira. Até hoje eu não tenho explicação para o que aconteceu aquela noite. Aqui em casa ninguém acredita em mim, e acham que devia ter alguém, mas com o pânico eu acabei não vendo quando a pessoa fugiu de lá de dentro. Nada nunca mais aconteceu por aqui, mas também eu nunca mais cheguei perto do quartinho (com exceção de algumas vezes, e nunca de noite).


Anderson - SP - São Paulo