A esposa na praia

Depoimento dado ao vivo na "Rádio Boa Nova", programa da radialista Guaraciaba Maia em 08/02/2008. Maiores informações acessem o site da emissora e peçam a entrevista na íntegra. De início conheço pessoalmente as pessoas envolvidas, e tentarei ao máximo ser fiel ao relato.

O Senhor estava com a família nesta cidade do litoral paulista (não me lembro ao certo), cuja praia é uma enseada tranqüila, onde se pode entrar com crianças sem maiores riscos. Naquele dia exatamente, as águas estavam calmas como de costume; mas por se tratar de um local de difícil acesso, são poucas as pessoas que se aventuram até este local. Mas como esta praia era muito conhecida por eles há anos, era um local comum que eles sempre procuravam para passear, nadar, se divertir e descansar.

O casal estava mergulhando tranqüilo enquanto os filhos pequenos juntamente com outros primos ficaram na areia, jogando bola, tomando sorvete entre outras. Então o casal adentrou nas águas e mergulharam nas plácidas ondas da tão conhecida enseada. Mas, naquele exato dia de verão algo de estranho ocorreu. A esposa que nada muito bem, começou se sentir sugada por uma correnteza e segundo ela mesmo disse: "-Minha vontade era de mergulhar fundo e de ficar por lá naquela sensação de solidão profunda e solitária. Na minha cabeça, eu deveria ter ficado lá e não procurar sair. Algo me dizia para permanecer quieta e ir em direção ao abismo".

O marido aflito porque percebendo que a esposa não retornava, começou também a sentir puxado para o fundo e notou que as águas que aparentemente eram calmas e rasas começaram a não dar mais pé e ele percebeu que estaria se afogando também em questão de segundos. Com medo, mas determinado, ele tentou mergulhar atrás da mulher, mas não conseguia alcançá-la... Sua aflição e angústia aumentavam cada vez mais, e em seu pensamento era de: "... meus filhos irão pensar que eu deixei a mãe deles morrerem..., ou não eu mergulharei também e irei com ela também..., mas neste caso quem irá criar meus filhos?; ou que as crianças nunca mais irão ao mar devido ao trauma. ...". Enfim nada de bom que pudesse ajudá-lo a sair com a esposa daquela situação de risco iminente. Apesar de ele ter sido militar, e cuja profissão atual ele sabia muito bem como se mantiver concentrado e souber como agir em horas de calamidade e desespero.

Então ele viu que nas pedras próximas a eles, a uns dez metros, dois homens que estavam fumando cigarro e parecia não ligar para sua aflição. Atordoado, ele gritou por socorro: "- por favor, ela está rodando, a correnteza está-nos puxando! Não estou conseguindo pegá-la...". Então (posteriormente ele notou que eles estavam lentos parecendo que a situação estava sob controle e que não havia motivo para tanto susto!) eles se levantaram, tiraram às camisetas e as bermudas, um deles tirou a carteira de cigarros dos bolsos e as chaves calmamente, e entraram nas águas.

Este senhor se lembra de ouvir: "- Vai lá Osvaldo!".

Eles vieram ao seu encontro e um deles falou: "- Você só tem uma chance de agarrá-la! Não dá para tentar outra vez que o mar não deixa!". Enquanto o outro homem mergulhou e pegou a moça nos braços, desmaiada e empurrou-a para o marido, que conseguiu pegá-la pelas pernas e conseguiu sair de lá. Foi então que as crianças viram o pai trazer a mãe nos braços e correram chorando.

Ele a deitou na areia e ela logo se reanimou, mas não se lembrava do que aconteceu realmente, só da sensação de paz esquisita que sentiu. Então ele falou para ela e para os presentes: "Cadê os dois moços? Eu preciso agradecer e deixar meu cartão! Chamá-los para conversar e tomar umas cervejas! Quero conhecê-los". Então o filho mais velho falou: "Quem, pai? Que moços?". E o senhor respondeu: " -Os dois homens que me ajudaram a salvar sua mãe! Os dois que estava fumando na pedra, que acabaram de entrar na água!". Mas as crianças responderam: "- Não tinha ninguém lá! A praia esta deserta! Ninguém entrou com vocês na água!".

Ainda atordoado pelo susto o homem pensou: "Nossa, então eles foram levados também pelas correntezas! Eu preciso chamar o resgate!" E foi em direção a tal pedra que eles estavam sentados à procura de documentos, das chaves ou de algo que pudesse identificá-los, mas não encontrou nada: roupas, chinelos, cigarro, carteira, nada, nem mesmo rastro molhado, pegada, nada que indicasse quem eram eles e para onde foram.

Arrepiado, agradecido, assustado (são muitas emoções que a adrenalina causa) e principalmente, sem entender nada (ou entendendo tudo?) eles foram embora. Acho que nunca voltaram àquela praia, não sei, não tenho certeza. Só sei que depois disto, este senhor é hoje um grande médium e trabalha com afinco para ajudar os irmãos encarnados ou desencarnados e faz parte de uma famosa equipe de pesquisas espíritas.

O estranho é que esta experiência tocou apenas a ele, sua esposa que segundo diz, não se lembra do ocorrido, não gosta nem de que citem este assunto, até porque se afogar para ela é algo vergonhoso, pois ela é uma excelente nadadora.


Jaqueline Cristina