Um desabafo

Conto enviado por: Artur - SP - São Paulo

Eu não sei o que está acontecendo.

Não sei por que eu continuo recebendo essas cartas. As cartas dela.

Ela estava na Europa quando tudo aconteceu. Ela me escreveu até o dia do acidente. Tem um período de dez dias para a correspondência chegar de lá, então eu sabia que continuaria a receber as cartas dela por um tempo, mas isso já faz mais de um ano, e eu continuo recebendo as cartas da minha falecida noiva.

São sempre palavras sem sentindo e rabiscadas, praticamente ilegíveis. As vezes são um monte de hieróglifos desconhecidos, com recortes de jornal velhos, ou mapas de lugares que eu não consigo identificar.

Mas está tudo sempre com a letra dela. E as cartas nunca vem com um endereço de retorno. Eu já não sei mais o que está acontecendo. Por que você me tortura desse jeito?

Eu beijei os lábios dela no funeral, e estavam frios e sem vida. Eu fiquei horas olhando para ela, até a levarem de mim.

Oh Júlia, eu sinto tanto a sua falta! Por que isso tinha que acontecer? As vezes eu penso em me juntar a você. É isso o que as suas cartas estão me dizendo?

Oh Deus, eu sinto tanto a falta dela...