O salão de festas

Em 99, mudamos eu, minha esposa e meus dois filhos, para o nosso tão sonhado apartamento. Na ocasião, aproveitamos para dar um trato na pintura da geladeira, pois estava meio malhada. Para facilitar as coisas para quem ia ajudar na mudança, o "pintor de geladeiras" retiraria a dita em nossa antiga casa e entregaria no apartamento, afinal, era um trambolho a menos para carregar. Como não é novidade, o "profissional" atrasou a entrega do serviço e nos deixou na mão (Agora começa a história).

Conversei com a síndica do prédio e fomos autorizados a usar o freezer do salão de festas, que fica no térreo. É um salão comprido em L. A entrada fica na cabeça do L e na perna do L tem num salão onde está a cozinha, banheiro e outra parte para convidados. Não sei se por erro de projeto ou burrice mesmo, tem-se que atravessar o primeiro salão na mais completa escuridão até chegar ao interruptor, acender a luz deste (que ilumina parcialmente o restante) e a partir daí, acender o resto das luzes.

Nesta noite, fomos ao mercado e tínhamos carne, frios e refrigerante para guardar no freezer. Minha mulher e os filhos subiram e eu fui guardar os perecíveis. Já passava das 22:00.

Pedi as chaves para o porteiro e entrei na boa naquele "breu" pensando. "- Eu tenho 30 anos, não preciso ter medo". Mas a gente sempre lembra da infância e fica com um certo receio. Caminhei até o final do salão e fui tateando a parede em busca do interruptor. "CLIC" achei!

Quando me virei, tive a nítida impressão que alguém se esquivara para trás da parede da cozinha, que aliás, era onde estava também, o freezer. Sem me dar conta do que acontecia, pensei: " A Flávia está querendo me assustar... Mas eu vou assustá-la antes he he he...". Mas enquanto caminhava para a cozinha, me veio uma coisa à cabeça: "A Flávia subiu com as crianças e não tem nenhuma porta aí... Ih caramba!!!!" Minha espinha gelou, os pelos do braço arrepiaram e pude sentir a pele do rosto queimando... Resultado: Abri o freezer, joguei tudo dentro e sai a mil, nem apaguei a luz...

Refeito do susto, contei a história para a minha esposa, que ouviu tudo sem dar uma palavra. Não sei que raios foi aquilo, se foi ilusão por estar com medo, se foi sombra, sei lá, mas que me deu um baita susto, deu. Depois eu liguei para o porteiro e pedi um favor: "-Seu Lúcio? Acho que deixei a luz do salão acesa, poderia fazer o favor de apagar para mim?"

E até hoje, quase quatro anos depois, não entro naquele salão sozinho, nem sob tortura...

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Gordo - SP - Osasco